Teria Deus rejeitado Israel?
Israel é a única nação do mundo que possui uma história completa – passado, presente e futuro. Romanos 9 enfatiza a eleição passada de Israel; Romanos 10, a rejeição presente e Romanos 11, que trataremos neste ensaio, a restauração futura de Israel.
Paulo usará todo este capítulo de Romanos 11 para apresentar provas de que Deus não desistiu de Israel. A fim de provar que os judeus têm um futuro dentro dos propósitos eternos de Deus, o apóstolo mostra 4 argumentos, como veremos a seguir:
1. O próprio Paulo (Rm 11.1)
“Terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo? De modo nenhum! Porque eu também sou israelita”. Se Deus desprezou seu povo, como explicar a conversão do apóstolo Paulo? O fato de sua conversão ser apresentada três vezes no Livro dos Atos é bastante significativo (At 9,22,26). A verdade é que essas passagens foram escritas para mostrar a conversão de Paulo como uma ilustração da futura conversão de Israel como nação.
Os relatos da conversão de Paulo têm pouca coisa em comum com a experiência de salvação de hoje. Por certo, nenhum de nós viu Cristo em glória, nem literalmente, o ouviu falar do céu. Não fomos cegados pela luz do céu nem atirados por terra. Agora, você deve estar se perguntando: De que maneira, a conversão de Paulo é um argumento que Deus não desistiu de Israel? Ela é um retrato de como a nação de Israel será salva quando Jesus Cristo, o Messias prometido voltar para estabelecer seu reino na terra. Os detalhes da restauração de Israel são apresentados no livro do profeta Zacarias 12.10 – 13.1. A nação verá Cristo voltar (Zc 14.4; Ap 1.7).
2. O profeta Elias
Israel é a nação eleita de Deus; o Senhor a “conheceu de antemão”, ou seja, a escolheu para si. A rejeição de Cristo por grande parte de Israel não prova que Deus rejeitou seu povo. Em sua época, Elias pensou que a nação havia se afastado inteiramente de Deus (ver I Rs 19). No entanto, o profeta descobriu que ainda havia um remanescente fiel. Pensou que era o único servo fiel de Deus que ainda restava, mas descobriu que havia mais sete mil.
Paulo referiu-se a esse “remanescente” em Romanos 9.27, uma citação de Isaías 10.22,23. Em momento algum, a nação inteira foi fiel ao Senhor. Deus faz uma distinção entre os filhos naturais de Abraão e seus filhos espirituais (Rm 2.25-29). A participação dos judeus na aliança por meio da circuncisão não lhes garantia a salvação. Como Abraão, deveriam crer em Deus, a fim de receber sua justiça (Rm 4.1-5). Convém observar que esse remanescente é salvo pela graça, não pelas obras (Rm 11.5,6). A maior preocupação de Israel sempre foi tentar agradar a Deus com boas obras (Rm 9.30 – 10.4).
Surge a pergunta: Se um remanescente havia sido salvo, provando, desse modo, que Deus não desistira do seu povo, o que havia acontecido com o restante de Israel? Foi o endurecimento do coração (Rm 11.7). Esse endurecimento foi decorrente de sua resistência à verdade, da mesma forma que o coração de Faraó foi endurecido porque ele resistiu à verdade. Para corroborar o que o apóstolo está dizendo, ele cita Isaías 29.10 e também se refere a Deuteronômio 29.4.
Destacamos também a expressão “torne-lhes a mesa em laço e armadilha” (Rm 11.9) – que significa que suas bênçãos se transformarão em fardos e em julgamentos. Foi o que aconteceu a Israel: suas bênçãos espirituais deveriam tê-los conduzidos a Cristo; em vez disso, se tornaram em uma armadilha e os impediram de chegar a Cristo. As próprias práticas e observâncias religiosas tornaram-se substitutos para uma experiência real de salvação.
Paulo deixa claro que o endurecimento de Israel não é total nem definitivo, o que prova que Deus tem um futuro para sua nação. “Veio o endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25).
3. Os gentios (Rm 11.11-15)
Em Romanos 2.1-3, Paulo usa os gentios para provar que os judeus são culpados, mas aqui usa os gentios para garantir que Israel será restaurado no futuro. Sua lógica nesta passagem é extraordinária. Quando os judeus rejeitaram o evangelho, Deus o enviou aos gentios, e estes creram e foram salvos. Três tragédias ocorrem em Israel: Israel caiu (Rm 11.11), foi abatido (Rm 11.12) e rejeitado (Rm 11.15). Todavia, nenhuma dessas palavras indica um julgamento terminante sobre Israel.
Mas o mais impressionante é que, apesar de Israel ter caído, a salvação foi levada aos gentios. Deus prometeu que os gentios seriam salvos (Rm 9.25,26) e cumpriu sua promessa. Acaso também não cumprirá sua promessa aos judeus?
É importante entender que as promessas do Antigo Testamento aos gentios eram ligadas à “ascensão” de Israel – a entrada em seu reino. Profecias como Isaías 11 e 60 deixam claro que os gentios participarão do reino de Israel. No entanto, Israel não “ascendeu”; em vez disso, caiu! Todavia, os eternos propósitos de Deus não podem ser frustrados. Deus nunca é “pego de surpresa”. Ele é Deus!
Israel tem um futuro. Paulo o chama de “sua plenitude” (Rm 11.12) e de “seu restabelecimento” (Rm 11.15). No momento, Israel encontra-se espiritualmente caído, mas quando Cristo voltar, a nação se erguerá novamente. Deus jamais romperá a aliança com seu povo, e sua promessa de restaurá-lo não falhará (Jr 31.35-37).
4. O próprio Deus (Rm 11.25-36)
O apóstolo guardou seu melhor argumento para o final. Provou que até o caráter e a obra de Deus estavam envolvidos no futuro de Israel. Os homens podem discutir sobre as profecias e diferir em suas interpretações, mas que todos saibam que estão tratando como o povo de Deus, Israel.
A) o tempo de Deus (v. 25) – O que acontece com Israel faz parte do plano de Deus, e Ele sabe o que faz. O endurecimento (Rm 11.7) de Israel como nação não é total nem definitivo: é parcial e temporário. Quando tempo durará? “Até que haja entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25). Há uma “plenitude” para Israel (Rm 11.12) e para os gentios. Hoje, em sua graça Deus está visitando os gentios e constituindo dentre eles um povo para seu nome (At 15.12-14). É evidente que indivíduos judeus estão sendo salvos, mas esta era presente é, acima de tudo, o tempo em que Deus está chamando os gentios e construindo sua Igreja. Quando esta era chegar ao fim e a plenitude dos gentios tiver encerrado, então Deus voltará a tratar de Israel como nação.
B) A aliança de Deus (vv. 27,28) – Trata-se, evidentemente, de uma continuação da citação de Isaías 59; mas a ênfase agora é sobre a aliança de Deus com Israel. Deus escolheu Israel pela graça, não por qualquer mérito da parte do povo (Dt 7.6-11; 9.1-6). Se a nação não foi escolhida por sua bondade, pode ser rejeitada por seu pecado? “Eleição” significa graça, não mérito. Deus não romperá sua aliança
com Abraão, Isaque e Jacó.
C) A graça de Deus (vv 30-32) – “Vocês gentios foram salvos por causa da incredulidade dos judeus”, diz Paulo. “Agora, que, por meio de sua salvação, Israel venha a conhecer Cristo”. Paulo lembra os gentios salvos repetidamente que eles têm uma obrigação espiritual para com Israel, de lhes “provocar ciúmes” (Rm 10.19; 11.11,14). O endurecimento de Israel é apenas “em parte” (Rm 11.25), o que significa que há salvação para os judeus como indivíduos. “Deus a todos encerrou na desobediência” – tanto judeus como gentios – de modo que todos possam ter a oportunidade de serem salvos pela graça. Deus declarou que tanto judeus como gentios estavam perdidos e condenados. Assim, Ele pode ter misericórdia de todos por causa do sacrifício de Cristo na cruz.
Nele, que tem promessas eternas
Pr. Marcelo Oliveira