Se Deus proibiu fazer imagens nos dez mandamentos, por que Ele mesmo mandou fazer imagens mais tarde?
Postado por André Sanchez em: #VocêPergunta
Você Pergunta: Em Êxodo 20. 4, Deus diz: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”. Porém, vemos que em Êxodo 25.18 Deus manda confeccionar dois querubins para colocar no propiciatório. Também em Números 21.8 Deus mandou Moisés fazer uma serpente de bronze e colocar numa haste. Como explicar essas contradições? Pode ou não pode fazer imagens segundo a Bíblia?
A Bíblia proíbe fazer imagens?
Cara leitora, interessante sua colocação. Comecemos pela sua pergunta: Pode fazer imagens segundo a Bíblia? Sim, pode! A Bíblia em nenhum momento proíbe a manifestação artística e nem as modernas técnicas de fotografia e arte que temos hoje em dia para reproduzir imagens. O grande erro da sua fala é não considerar todo o contexto desse mandamento. O restante do texto diz: “Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso…” (Ex 20. 5). As expressões chave aqui são “adorarás” e “darás culto”. A proibição de Deus com relação a fazer imagens (do que há em cima nos céus, embaixo na terra, nas águas debaixo da terra) é com relação ao uso delas para idolatria. Ou seja, Deus não aceita a idolatria do ser humano para qualquer outro deus ou deuses. E isso por um fato simples: só há um Deus!
Assim, creio que fica bem claro que eu posso ter uma foto (imagem) da minha filha na carteira como recordação dela e não quebrar o mandamento. Mas também posso fazer dessa foto um objeto de culto, prostrando-se perante ela, fazendo pedidos a ela como se ela pudesse operar milagres, acendendo velas, atribuindo milagres a ela e, assim, quebrar o mandamento.
Outro exemplo: eu posso ter uma escultura artística em minha casa (uma imagem) e ela servir apenas de decoração, nesse caso não quebro o mandamento. Mas posso fazer dessa mesma imagem um objeto de culto, atribuindo poderes a ela e tratando-a como uma divindade. Nesse caso quebro o mandamento.
Agora vamos analisar as suas menções sobre as imagens que Deus mandou fazer na Bíblia.
Os dois querubins que ficavam na tampa da arca da aliança (propiciatório) eram imagens? Sim. Eram imagens feitas com o objetivo de serem adoradas? Claramente que não! A arca da aliança e o propiciatório ficavam num lugar fechado dentro do tabernáculo chamado de “Santo dos santos”. O acesso a esse local era restrito ao Sumo Sacerdote, que podia entrar ali apenas uma vez ao ano (Levítico 16). Ou seja, não tinham como ser adorados pelas pessoas. Esse não era o objetivo de Deus quando mandou fazer os querubins no propiciatório, como fica bem claro. Sendo assim, não fere o mandamento.
A serpente de bronze era uma imagem? Sim. Sua construção foi com o objetivo de ser adorada? Não! Ela tinha um objetivo definido por Deus, conforme está no texto: “Disse o SENHOR a Moisés: Faze uma serpente abrasadora, põe-na sobre uma haste, e será que todo mordido que a mirar viverá. Fez Moisés uma serpente de bronze e a pôs sobre uma haste; sendo alguém mordido por alguma serpente, se olhava para a de bronze, sarava.” (Numeros 21. 8-9).
Interessante observar que essa serpente de bronze, alguns anos mais tarde, virou um deus para o povo de Israel, que desobedeceu a Deus no uso que deveriam fazer dela. O rei Ezequias, centenas de anos mais tarde a destruiu, mostrando claramente o desagrado de Deus, pois o povo estava quebrando o mandamento adorando essa serpente, e até deram um nome a ela: “Removeu os altos, quebrou as colunas e deitou abaixo o poste-ídolo; e fez em pedaços a serpente de bronze que Moisés fizera, porque até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam Neustã.” (2Rs 18. 4)
O caso dessa serpente de bronze é bastante claro a respeito do uso correto e incorreto que se pode fazer de uma imagem segundo o mandamento bíblico. Deus lhe atribuiu um uso correto que não quebrava o mandamento. Mas o povo fez um uso diferente transformando-a em um deus, quebrando o mandamento.
Assim, creio que está bastante claro que não existe contradição alguma entre o mandamento de Deus e o fato de Deus mandar fazer imagens para alguns fins bem específicos. O mandamento sobre não fazer imagens e as adorar permanece até o dia de hoje, faz parte da lei moral de Deus. Devemos ter a compreensão correta dele para não desagradar a Deus. Usar as imagens erroneamente ainda hoje é pecado.