Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
Com base em Atos 15:20, podemos afirmar que é proibido fazer transfusão de sangue?
Com base em Atos 15:20, podemos afirmar que é proibido fazer transfusão de sangue?
“Recebendo sangue”
Em Atos 15:20, lemos o seguinte: “Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, bem como das relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e do sangue” (ERA)
“Mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue.” (ACeRF)
“Pelo contrário, devemos escrever a eles, dizendo-lhes que se abstenham de comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do sangue.” (NVI)
“Mas escrever-lhes que se abstenham das viandas oferecidas aos ídolos, da fornicação, dos animais sufocados e do sangue.” (SBB)
Baseados nesta passagem, algumas seitas ensinam que é pecado receber uma transfusão de sangue, rejeitando assim este ato que pode salvar muitas vidas. E você leitor, qual a sua posição? Leia e comente se possível, deixando a sua opinião sobre o assunto.
A habilidade da medicina moderna de manter a vida por meio da transfusão de sangue é uma prática comum, que sem dúvida tem sido usada por cristãos. Imagine você, quantas pessoas no passado morreram por que não tiveram a oportunidade de receber qualquer tipo de transfusão de sangue, vindo a óbito. A transfusão de sangue foi um grande avanço da medicina e que tem beneficiado inúmeras vidas. Existem atualmente campanhas na TV incentivando pessoas a doar sangue para que outras pessoas, como acidentados, pessoas no pós-operatório, etc. possam ter a chance de viver. Entretanto, esse versículo é usado por alguns grupos religiosos, tais como as Testemunhas de Jeová, para sustentar que as transfusões de sangue não estão de acordo com a vontade de Deus.
O que podemos dizer a respeito?
“Bolsa de sangue”
Primeiramente, acreditamos que a transfusão de sangue é algo que está de acordo com a conduta cristã, pois é um ato de solidariedade, e que pode salvar muitas vidas. Se você já teve a chance de entrar em um hemocentro alguma vez na vida, com certeza você pôde constatar o quanto este ato tem salvado vidas. Pessoas recorrem aos homocentros diariamente buscando ‘bolsas de sangue’ para parentes e amigos hospitalizados que precisam de sangue ou, caso contrário, morrerão.
Voltando à passagem que está falando acerca da restrição do A.T. quanto a comer ou beber sangue, e lendo atentamente, não ficaremos confusos quanto ao ato (Gn 9:3-4; cf. At 15:28-29). Uma transfusão não é nem o ato de “comer” nem o de “beber” sangue. Isso é claro em vista de vários fatos.
Primeiro, muito embora um médico possa dar alimento a um paciente por via intravenosa e chamar isso de “alimentação”, não é o caso de dizer que dar sangue por via intravenosa seja também “alimentação”, já que o sangue não é recebido no corpo como “alimento”.
Segundo, referir como sendo “comer” o ato de dar um alimento diretamente na corrente sangüínea é apenas uma figura de linguagem. Embora o alimento seja absorvido no sangue de uma maneira semelhante àquela feita por meio das funções digestivas normais, comer é o ato literal de tomar um alimento de maneira normal pela boca, passando pelo sistema digestivo. A razão por que as injeções intravenosas são consideradas “alimentação” é que o corpo recebe os mesmos nutrientes que ele receberia ingerindo-os normalmente. Isso é semelhante à prática de se chamar um alimento de “saudável”. O alimento não é realmente saudável, porque a saúde é uma característica dos seres vivos, não de alimentos. Mas chamamos um alimento de “saudável” porque ele proporciona saúde.
Terceiro, a única maneira possível de entender a palavra “comer”, tanto no A.T. como no N.T., é tomá-la como referindo-se ao processo de levar alguma coisa para o corpo, como alimento, através da boca e do sistema digestivo. Isso é evidente, já que a tecnologia que permitiu a aplicação de injeções intravenosas não tinha sido inventada no tempo em que aquelas passagens foram escritas.
Quarto, é claro que essa passagem do A.T. não diz respeito primariamente ao ato de comer sangue, mas sim ao fato de que há vida no sangue. Levítico 17:10-12 torna isso claro: “Qualquer homem da casa de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra ele me voltarei e o eliminarei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas: porquanto é o sangue que fará expiação em virtude da vida. Portanto tenho dito aos filhos de Israel: nenhuma alma de entre vós comerá sangue, nem o estrangeiro, que peregrina entre vós, o comerá.”
“Não era uma proibição de transfusões sanguíneas”
As proibições em Gênesis 9:3-4 e em Levítico 17:10-12 foram primariamente dirigidas contra comer carne fresca ainda pulsando com vida, porque o sangue vivo estava ainda nela. Mas a transfusão de sangue não é o ato de comer carne com o sangue vivo ainda nela. Finalmente, a proibição em Atos não foi necessariamente dada como uma lei pela qual os cristãos teriam de viver, porque o N.T. ensina claramente que não estamos debaixo da lei (Rm 6:14; Gl 4:8-31). Antes, o concilio de Jerusalém teve a preocupação de aconselhar os cristãos gentios a respeitar seus irmãos judeus por meio da observação dessas práticas, para que assim não fossem “causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus” (1 Co 10:32).
De qualquer maneira, a restrição de forma alguma pode ser interpretada como uma proibição das transfusões sanguíneas, pois não era isso que os apóstolos tinham em vista. O erudito David Stern, especialista em assuntos da Lei judaica faz o seguinte comentário do versículo 20, na parte referente ao sangue: “Isso poderia ser literal, referindo-se a beber o sangue do animal ou deixar de tirá-lo da carne, ou poderia ser figurado, uma metáfora para o assassinato.” Para outros comentaristas, essas orientações também serviam para evitar o rompimento da comunhão entre judeus e os crentes gentios no contexto do primeiro século. Portanto, não há nada que indique uma proibição da transfusão sanguínea que pode salvar vidas.
Bibliografia:
GEISLER, Norman; HOWE, Thomas. Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e “Contradições” da Bíblia: 1ª Ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
STERN, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento: 2ª Ed. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008