Esta é a vida eterna: que te conheçam, o único Elohim verdadeiro, e a Yeshua o Messias, a quem enviaste. JOÃO 17:3
Deus, o único que possui a imortalidade
Deus, o único que possui a imortalidade
Deus, o único que possui a imortalidade – “Aquele que possui, ele só, a imortalidade, e habita em luz inacessível; a quem nenhum dos homens tem visto nem pode ver; ao qual seja honra e poder para sempre. Amém” (cf. 1Tm.6:16). Essa declaração conclusiva que faz o apóstolo Paulo confirme tudo aquilo que já vimos até aqui: Deus é o único que possui a imortalidade. Ponderamos: se todos nós tivéssemos presos dentro de nós uma “alma imortal”, Paulo iria dizer que apenas Deus que possui tal imortalidade? Absolutamente não.
Nisso fica claro que nós, seres humanos, não possuímos a imortalidade, supostamente na forma de um elemento imortal implantado em nosso ser. Deus é o único. Ele só possui a imortalidade. Se nós possuíssemos uma alma imortal, nós não morreríamos nunca, viveríamos eternamente e inerentemente, através dessa alma. Aliás, essa é a base da doutrina imortalista, refutada pelo apóstolo Paulo.
Tal passagem é tão irrefutável que os apologistas Norman Geisler e Thomas Howe (ambos defensores da imortalidade da alma) tentaram oferecer a melhor explicação a ela dentro do prisma imortalista, mas que, como veremos, só complica ainda mais a situação deles. Eles argumentaram da seguinte maneira:
”Deus é o único que possui a imortalidade intrinsecamente, em virtude de sua própria natureza. Todos os crentes a recebem como uma dádiva de Deus, mas ela não é inerente à natureza humana, como criaturas que são. Coloquemos isso de outro modo: somente Deus é imortal – os seres humanos simplesmente possuem imortalidade”[1]
A explicação deles, muito repetida no meio imortalista, acaba falhando exatamente no ponto em que ela mais tenta se sustentar: de que nós não somos imortais, mas apenas possuímos a imortalidade (por causa da alma imortal que em nós reside). O texto original do grego, contudo, deita por terra essa tentativa de refutação, visto que Paulo fez questão de usar o termo grego para possessão-echôn nessa passagem, como podemos constatar:
“o monos echôn athanasian phôs oikôn aprositon on eiden oudeis anthrôpôn oude idein dunatai ô timê kai kratos aiônion amên” (cf. 1ª Timóteo 6:16)
De acordo com o léxico da Concordância de Strong, echôn significa:
2192 εχω echo verbo primário; TDNT – 2:816,286; v 1) ter, i.e. segurar. 1a) ter (segurar) na mão, no sentido de utilizar; ter (controlar) possessão da mente (refere-se a alarme, agitação, emoção, etc.); segurar com firmeza; ter ou incluir ou envolver; considerar ou manter como. 2) ter, i.e., possuir.
Como vemos, tal verbo denota possessão, como quando alguém “segura” algo, quando têm em seu controle, ou possui em sua natureza. É esse o verbo que sempre aparece quando o assunto é ter ou possuir algo. Em Mateus 11:15, é nos dito que “quem tem [echôn] ouvidos para ouvir, ouça”. O jovem rico “retirou-se triste, porque possuía [echôn] muitas propriedades” (cf. Mt.19:22). Os saduceus perguntaram a Cristo se alguém, “não tendo [echôn] filhos, casará o seu irmão com a mulher dele” (cf. Mt.22:24). Os judeus, ao ouvirem Jesus pregando, “maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo [echôn] autoridade” (cf. Mc.1:22). Na sinagoga “estava ali um homem que tinha [echôn] uma das mãos atrofiada” (cf. Mc.3:1). Paulo disse que “é preciso que o presbítero seja irrepreensível, marido de uma só mulher, e tenha [echôn] filhos crentes…” (cf. Tt.1:6).
Como podemos ver ao longo de todo o Novo Testamento, o verbo echôn nunca está relacionado a “ser”, mas a “possuir”. Paulo sabia muito bem disso, e por essa mesma razão não disse apenas que Deus “é o único imortal”, mas que é o único que “possui [echôn] a imortalidade”. Desta forma, embora seja louvável a tentativa de refutação pelos imortalistas, ela não é sincera quando analisamos o original grego[2]. Ele nos mostra que Deus não apenas é o único que é imortal, mas também que é o único a possuir a imortalidade, refutando a objeção de Geisler e Howe.
Tais apologistas, defensores da tese da alma imortal, sabiam muito bem que, se Deus é o único a possuir a imortalidade, então nós não possuímos uma alma imortal, e por essa razão tentaram objetar com tal distinção entre “ser” e “possuir”, ainda que no grego esteja “possuir” e não “ser”! O texto em pauta fala acerca de possessão, de posse presente. Paulo afirma que Deus é o único a possuir a imortalidade. Nós, seres humanos, não possuímos a imortalidade, mas almejamos obtê-la, é por isso ela tem que ser buscada (cf. Rm.2:7). Deus é o único que tem a imortalidade como possessão presente (cf. 1Tm.6:16), ao passo que os justos terão a sua natureza mortal transformada um uma natureza imortal por ocasião da ressurreição (cf. 1Co.15:53,54). Nós não somos um corpo mortal que possui um elemento imortal, porque o único a possuir tal imortalidade é o Deus Todo-Poderoso (cf. 1Tm.6:16). E isso obviamente exclui todo o dualismo grego entre corpo e alma.
Outros imortalistas, na tentativa de oferecerem alguma outra interpetação que lhes pareça mais plausível que a anterior, que é facilmente refutada, argumentam que Deus é o único que é a fonte da imortalidade, ao passo que os seres humanos apenas obtém imortalidade derivada de Deus. Isso, contudo, novamente fere o texto bíblico, que em momento nenhum fala sobre fonte de imortalidade, mas sobre possessão de imortaldiade. Paulo não disse que “Deus é o único que é a fonte da imortalidade”, mas sim que Ele é “o único que possui a imortalidade”.
É praxe dos imortalistas terem que distorcer ou até mesmo manipular um texto bíblico, reinterpretando-o ao ponto de reescrevê-lo, para poderem enxaicar as suas teses na Bíblia. A razão para isso é simples: porque aquilo que o texto diz de verdade simplesmente não os agrada. Precisam mudar o texto bíblico, alterar a Palavra de Deus. Onde diz “o único que possui a imortalidade”, mudam para “o único que é a fonte da imortalidade”. O texto, porém, nada discorre sobre “ser uma fonte de imortalidade”, passando a ideia de que outros seres também a possuem; ao contrário, rejeita a tese de que outros seres a possam possuir por possessão natural.
Além disso, uma objeção semelhante é feita por imortalistas que, em lugar de “imortalidade”, mudam para “eternidade”, como fez o Pr. Airton Evangelista da Costa:
“A imortalidade de que trata 1 Timóteo 6.16, refere-se a um atributo intrínseco da Divindade; uma imortalidade que pode ser traduzida por eternidade, isto é, Deus não teve começo nem terá fim”[3]
Qual a necessidade de se alterar o que o texto bíblico diz, de “imortalidade” para “eternidade”? É evidente que os próprios imortalistas reconhecem as dificuldades de se encarar um texto bíblico de acordo com aquilo que o texto diz categoricamente, daí a necessidade de se trocar palavras, como se o próprio Paulo tivesse escolhido as palavras erradas, obrigando os imortalistas de séculos posteriores a corrigirem Paulo e, em lugar de “imortalidade”, traduzirem por “eternidade”, que seria uma escolha mais correta, na opinião deles.
Contudo, se o próprio Paulo quisesse apenas dizer que Deus é o único que “possui a eternidade” (o que em si mesmo não teria sentido, visto que Deus não “possui” a eternidade, mas “é” eterno, tornando inócuo e sem sentido o emprego do echôn, como vimos anteriormente) ele teria pronto, a mão, e perfeitamente disponível a palavra aionios, que é a palavra sempre utilizada quando se refere à eternidade, ou a algo que é eterno. Por exemplo, Deus fará conhecido o “eterno [aionios] propósito que fez em Cristo Jesus” (cf. Ef.3:11), nos fará entrar no “reino eterno [aionios] de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (cf. 2Pe.1:11), o evangelho é chamado de “evangelho eterno [aionios]” (cf. Ap.14:6), o Espírito Santo é chamado de “Espírito eterno [aionios]” (cf. Hb.9:14), e quando o próprio Paulo quis dizer que Deus é eterno ele empregou aionios:
“Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” (cf. Romanos 16:26)
No grego:
“phanerôthentos de nun dia te graphôn prophêtikôn kat epitagên tou aiôniou theou eis upakoên pisteôs eis panta ta ethnê gnôristhentos”
Portanto, quando Paulo queria passar a ideia de que Deus era eterno, ele nunca hesitava em usar outra palavra senão a própria em questão que significa eterno, que é aionios. Se ele decidiu mudar em 1ª Timóteo 6:16 e empregar a palavra para imortalidade, que é athanasia, é porque ele não queria dizer “eterno”, mas “imortal”! Paulo não se enganou na palavra escolhida e nem disse uma coisa “querendo dizer outra”, como a alegação imortalista que mais parece querer concertar um erro do apóstolo Paulo no desespero em oferecer alguma interpetação para a palavra “imortalidade” que não seja “imortalidade”!
Pois imortal não é aquilo que é eterno, isto é, que não tem começo e nem fim. Só Deus é eterno, isso ninguém contesta. Mas imortal (athanasia), diferenciando-se de eterno (aionios), diz respeito simplesmente a algo que não pode morrer. Nem os seres humanos nem os anjos possuem a imortalidade em seu ser, que seria algo que lhes impedisse de morrer e que lhes garantiria uma existência eterna. Se os anjos possuíssem a imortalidade, os que caíram não estariam fadados à morte no lago de fogo, como veremos mais adiante no capítulo sobre o inferno. Os anjos bons, por sua vez, tem sua imortalidade condicionada à sua obediência a Deus, assim como os humanos, que não possuem nenhum elemento imortal que lhes garanta uma existência sem fim, mas que podem viver eternamente se forem fieis a Cristo e obedientes a Deus, herdando uma vida eterna na ressurreição.
Desta forma, podemos ver que todos os argumentos imortalistas que tentam contradizer aquilo que o texto bíbico diz claramente falham miseravelmente quando postos à prova pela própria Bíblia, pois não parecem interessados em fazer exegese, mas meramente em demonstrar indignação com o que realmente está escrito, tentando reescrever a Bíblia ou nos tentar convencer que Paulo disse uma coisa mas queria dizer outra, ou que usou uma palavra quando o correto mesmo era outra que estava perfeitamente disponível, mas não foi usada por ele. Isso não é interpretar um texto, mas forçá-lo de tal forma que o contraste entre ele e a imortalidade da alma se torne mais sutil.
Por Cristo e por Seu Reino, Lucas Banzoli (apologiacrista.com)