Novos céus e nova terra
Linguagem literal ou figurada? Novos céus e nova terra
Vindo com as nuvens
Geralmente quando falamos de céus e terra na profecia bíblica, logo nos vem a mente uma nova criação física, onde habitaremos para sempre com o Senhor. O velho céu e velha terra seriam destruídos ou renovados para dar lugar a um novo céu e uma nova terra. Eu pelo menos tinha esse pensamento, porém ao estudar mais afundo o termo céus e terra vi que esse termo não se refere a uma nova criação física, essa ideia de uma nova criação física simplesmente não existe no contexto dos profetas. vamos analisar:
A primeira vez que o termo aparece:
“Inclinai os ouvidos, ó céus, e falarei; e ouça a terra as palavras da minha boca” Dt 32,1
O que o termo céus e terra significa aqui? Vamos olhar o contexto.
“Então Moisés falou as palavras deste cântico aos ouvidos de toda a congregação de Israel, até se acabarem” Dt 31,30
Céus e terra aqui se referem a toda a congregação de Israel e não aos céus e terra físicos. Depois o termo aparece em Isaías:
“Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim” Is 1,2
Com quem Isaías está falando aqui?
“Visão de Isaías, filho de Amós, que ele teve a respeito de Judá e Jerusalém, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, e Ezequias, reis de Judá” Is1,1
Céus e terra aqui significam Judá e Jerusalém e não céus e terra físicos. Mas adiante vemos que a mensagem é para os poderosos e para o povo.
“Ouvi a palavra do SENHOR, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra” Is1,10
Continuando em Isaías, vamos ao capítulo 13:
“Por isso farei estremecer os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do SENHOR dos Exércitos, e por causa do dia da sua ardente ira” Is13,13
Com quem o profeta está lidando aqui?
“Eis que eu despertarei contra eles os medos, que não farão caso da prata, nem tampouco desejarão ouro. E babilônia, o ornamento dos reinos, a glória e a soberba dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou” Is 13,17-19
O profeta lida aqui com a queda da Babilônia pelos Medos, o profeta diz que os céus estremecerão e a terra se moverá, isso fazendo referencia ao governo da Babilônia e seus poderosos, não está tratando dos céus e terra literais. Vamos ao capítulo 34:
“E todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um livro; e todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e como cai o figo da figueira” Is34,4
Isaías está tratando do que aqui?
“Porque a minha espada se embriagou nos céus; eis que sobre Edom descerá, e sobre o povo do meu anátema para exercer juízo” Is 34,5
Isaías não está tratando de um evento físico que ocorreu no céu físico, ele está usando a simbologia que ele usou anteriormente (ao se referir ao governo de Judá), neste contexto, a queda do Governo de Edom. Só a nível de curiosidade:
“E os seus ribeiros se tornarão em pez, e o seu pó em enxofre, e a sua terra em pez ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; pelos séculos dos séculos ninguém passará por ela”. Is34,9-10
Esse vento acima ocorreu literalmente a Edom? Por que quando chegamos ao Novo Testamento e vemos essa linguagem se referindo ao inferno, dizemos que é literal? Com que base afirmamos isso? O que é mais correto, honrar as palavras de Jesus de acordo o padrão usado pelos profetas, ou abandonar esse padrão e partirmos para um princípio novo? A próxima referencia vem do capítulo 51:
“Porque eu sou o SENHOR teu Deus, que agito o mar, de modo que bramem as suas ondas. O SENHOR dos Exércitos é o seu nome. E ponho as minhas palavras na tua boca, e te cubro com a sombra da minha mão; para plantar os céus, e para fundar a terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo” Is51,15-16
Aqui chegamos no sentido pleno de céus e terra, o sentido de Aliança. Isaías demonstra neste texto que céus e terra se referem a Aliança que Deus fez com o povo Judeu que através dela se formou o Governo Israelita pós-Egito. Isaías aqui não relata a criação física. Vamos ao tão sonhado verso.
“Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas, nem mais se recordarão”. Is65,17
De todas as vezes que Isaías usou o termo céus e terra, vimos que nunca foi no sentido literal/físico do termo, mas no sentido de Governo e Aliança. Neste sentido, qual é mais coerente, a criação de um novo governo ou de uma nova Aliança? Pelo Novo Testamento temos a certeza de que se refere a uma Nova Aliança. As coisas que não serão recordadas são as coisas da Antiga Aliança, seus sistemas, costumes e etc.
Perceba o contexto de Isaías 65 e 66, Deus castiga um povo rebelde por desobedecer a sua Aliança, leia Zacarias 11 onde diz que Deus iria cancelar a Aliança e iria castigar de uma vez por todas o povo rebelde que quebrava a Aliança. O povo mencionado é o povo Judeu que de tanto desobedecer a Aliança, Deus a cancelaria e criaria um Nova Aliança não só mais exclusiva aos Judeus, mas abrangendo aos Gentios. Foi neste contexto que Isaías descreve a criação dos Novos Céus e da Nova Terra.
Agora é a vez de Jeremias:
“Observei a terra, e eis que era sem forma e vazia; também os céus, e não tinham a sua luz” Jr4,23
O que isso significa aqui? Vamos ao contexto:
“Porque assim diz o SENHOR aos homens de Judá e a Jerusalém: Preparai para vós o campo de lavoura, e não semeeis entre espinhos” Jr4,3
O contexto aqui é a queda de Jerusalém e o cativeiro de Judá, onde o profeta Jeremias os descreve como a Terra sem forma e vazia e os céus escuros. Não tem referencia a criação do Gênesis e muito menos ao físico.
Vamos a Ageu.
“Porque assim diz o SENHOR dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca;” A2,6
Ageu está falando do que aqui?
“Segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes do Egito, o meu Espírito permanece no meio de vós; não temais” Ag2,5
Ageu no contexto fala da Aliança de Deus e a associa com o Templo Judeu (Ageu 2:1-3). Mas uma vez o termo não faz referencia aos céus e terra físicos.
No Novo Testamento, temos exatamente a mesma coisa. Comparem:
“A voz do qual moveu então a terra, mas agora anunciou, dizendo: Ainda uma vez comoverei, não só a terra, senão também o céu” Hb12,26
“E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe” Ap 21,1
Aqui o termo se refere claramente a nova aliança estabelecida por jesus. A primeira aliança, os céus e a terra ja passaram. Veja que Pedro esperava o cumprimento dessa nova aliança:
“Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” 2Pe 3,13.
Todos esses textos no Antigo Testamento não são literais, por que quando chegamos e vemos esses mesmos textos no Novo Testamento dizemos que são literais? Onde está a coerência? A verdade é que não existe nenhuma referencia de uma nova criação física nas profecias. O que há é uma Nova Criação, uma Nova Aliança.
VINDO COM AS NUVENS
O mesmo ocorre com a expressão vindo com as nuvéns citada em algumas passagens do novo testamento:
“Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém” Ap1,7
Vir com as nuvens se refere quando Deus vem em julgamento sobre uma geração ou um povo. vejamos alguns exemplos no tanakh de quando o Eterno veio com as nuvens:
“Eis que vem subindo como nuvens, como o redemoinho são os seus carros; os seus cavalos são mais ligeiros do que as águias. Ai de nós! pois estamos arruinados! Lava o teu coração da maldade, ó Jerusalém, para que sejas salva; até quando permanecerão em ti os teus maus pensamentos?” Jr 4,13-14
Oráculo contra o Egito:
“Eis que ADONAI, montado numa nuvem rápida, vem ao Egito. Os ídolos do Egito tremem diante dele e o Egito sente desfalecer sua coragem” Is19,1
Portanto, como vemos, não é uma expressão literal e exprime um julgamento de Deus. Basta compararmos outros livros e chegamos a essa conclusão. Pena que a maioria dos teologos hoje interpretam a biblia literalmente.
Shalom!