“O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento”
(Oséias 4:6)
Um grande engano que existe dentro de algumas igrejas neopentecostais e que é propagado grandemente por alguns líderes dos dias de hoje diz respeito à ilusão da “teologia da prosperidade”, respaldada por alguns versos isolados e sem exegese, unida a uma grande dose de ganância e ânsia de poder e riquezas, na maioria das vezes formando cristãos materialistas, que ao invés de quererem abrir mão da sua vida por amor a Cristo (Lc.9:24), preferem lutar por fama, status, sucesso, dinheiro, riquezas, poder.
É basicamente a mesma tática que Satanás usou no deserto na tentação de Jesus Cristo. Ele lhe ofereceu o suprimento material (Mt.4:3), mas Jesus revidou com o suprimento espiritual, a palavra de Deus (Mt.4:4). Satanás lhe ofereceu poder, glória e autoridade, dizendo-lhe:
“O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: ‘Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares’” (Mt.4:8,9)
Basicamente é exatamente isso o que o diabo continua oferecendo aos cristãos nas tentações dos dias de hoje. Os tempos passam, mas as tentações são as mesmas de sempre. Ele oferece aos cristãos “os reinos do mundo e a sua glória”, constantemente deturpando as passagens das Escrituras, pegadas de forma isolada, como ele tentou fazer com Cristo (Mt.4:6).
Mas que o diabo deturpa as Escrituras para tentar o cristão com a heresia da teologia da prosperidade, isso todo mundo já sabe. O que infelizmente me aborrece e que me levou a escrever este texto é que, diferentemente da reação de Jesus, hoje em dia existem muitos cristãos que engolem facinho essa conversa. Alguns o fazem por pura ganância, mas outros são simplesmente iludidos. Não escrevo para os primeiros (os gananciosos), mas sim para o segundo grupo (o de cristãos sinceros que infelizmente são enganados, mas que precisam saber a verdade bíblica).
Como hoje tudo se move a dinheiro, é normal vermos pregadores recortarem certas passagens bíblicas com o intuito de prometer aos seus fieis uma vida cheia de prosperidade financeira, um maravilhoso carro de última geração, um campo ou uma fazenda em algum lugar, um serviço super interessante e, talvez, uma ou duas mansões em Los Angeles ou no Havaí. É triste vermos que, enquanto Jesus repudiou tais deturpações e oferecimentos vindos do maligno, hoje em dia cristãos sinceros são enganados por “não conhecerem as Escrituras” (Mt.22:29), que podem ser devidamente utilizadas para refutar inteiramente tais crenças.
Desta forma, estarei mostrando neste estudo a realidade dos fatos bíblicos, e ao contrário do que alguns fazem, não tenho a pretensão de iludir ninguém, mas apenas de mostrar a verdade, por mais dura e pesada que seja para alguns que querem e gostam de enriquecer cada vez mais e ainda por cima divulgar e propagar essa heresia que mais corroe o seio evangélico. Como disse C.S.Lewis, “se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo”.
“Outros ainda recebem a semente entre os espinhos; ouvem a palavra, mas as preocupações mundanas, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e a tornam infrutífera” (Marcos 4:18,19)
Em Marcos 4, Jesus conta a famosa parábola do semeador. Ele revela nela quatro tipos específicos de pessoas, sendo que apenas uma única delas é um cristão verdadeiro, que persevera até o fim. O primeiro tipo de pessoas diz respeito àquelas que logo ao ouvirem a palavra, “Satanás tira a palavra que foi semeada nos seus corações” (Mc.4:15). O segundo grupo de pessoas são aqueles que, “sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam” (Mc.4:17). Mas é o terceiro grupo de pessoas que mais me chama a atenção.
Embora existam os quatro grupos visivelmente, o terceiro é aquele que mais ocorre na igreja cristã, o mais facilmente ludibriado: o daqueles que tem preocupações mundanas (com dinheiro e poder), e tem “ilusão de riquezas” (v.19). Note que Cristo chama àquilo que os pregadores da prosperidade pregam de “ilusão”! Ilusão porque elas iludem os pobres fieis pensando que eles vão ser ricos por estarem em Cristo, quando na verdade, TODOS os apóstolos e o próprio Cristo foram pobres. Ou seja, eles querem que os seus fieis sejam exatamente aquilo que nem Jesus, nem Paulo, Pedro ou qualquer outro apóstolo foi: RICO!
Vamos passar uma lista rápida para vermos como os apóstolos criam tanto na teologia da prosperidade, mas tanto mesmo, que eram pobres:
-Pedro:
“Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda” (Atos 3:6)
Quando Pedro foi curar o paralítico, é comum vermos em algumas igrejas apenas a ênfase na cura em si (“ele foi curado… ‘Uau’… ‘aleluia’…!”), quando na verdade propositalmente omitem aquilo que Pedro disse de igual importância: que ele não tinha prata e nem ouro! É óbvio que Pedro não era um mentiroso. Ele não estava tentando ludibriar o mendigo fazendo-se passar por pobre – ele realmente era pobre! Se nos aprofundarmos nas Escrituras, veremos que Pedro não era o único.
-Jesus:
“Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lucas 9:58)
Note que, enquanto muitos pastores “super-poderosos” dos dias de hoje tem mansões (isso mesmo, no plural!), jatos, carros importados, etc… Jesus não tinha nem sequer onde reclinar a cabeça!!! É muita hipocrisia alguns se dizerem “seguidores de Cristo”, achando que Jesus é o nosso exemplo maior quando, na verdade, eles pregam e vivem exatamente o oposto de Cristo: as riquezas! O apóstolo Paulo é claro ao afirmar que Cristo “se fez pobre por nós” (2Co.9:9). Sendo assim, se engana quem pensa que Jesus era “rico”, e ainda mais quem pensa estar seguindo o exemplo de Jesus quando pregam e vivem exatamente o inverso da vida do próprio Cristo.
Enquanto Cristo não tinha nem sequer onde reclinar a cabeça, esses falsos profetas dormem em camas super confortáveis, em verdadeiras mansões paradisíacas. Jesus parece que lhes deixou o exemplo a não ser seguido: a simplicidade. Em busca das riquezas, eles caíram no maior dos pecados – o amor ao dinheiro, que é “a raiz de todos os males” (1Tm.6:10).
-Paulo:
O caso do apóstolo Paulo é ainda mais interessante. Ele não apenas diz que ele era “pobre”, mas mostra também muitos outros inúmeros aspectos de sua vida. Uma pequena lista que ele escreve aos coríntios talvez seja o suficiente para nos mostrar o quanto que Paulo sofria, era perseguido, e tinha necessidade de tudo – isso mesmo, de tudo aquilo que os pastores atuais da prosperidade têm em fartura!
2 Coríntios 11
23 São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes.
24 Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.
25 Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar.
26 Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos.
27 Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.
28 Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas.
29 Quem está fraco, que eu não me sinta fraco? Quem não se escandaliza, que eu não me queime por dentro?
30 Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza.
Quanta diferença para a teologia da prosperidade! Enquanto esta prega que “vamos ficar ricos”, que “Deus quer que nós prosperemos” (leia-se: “$$$$$”), e outras bobagens do tipo, o apóstolo é muito categórico em dizer que nem tinha lugar certo para dormir, que passava fome e sede (assim como outras pessoas pobres passam), e que por isso tinha que suportar frio e nudez!
Não estou dizendo que todo cristão tenha que não ter onde dormir e passar fome, mas sim que dizer que todos tem que prosperar é no mínimo pregar uma heresia bem barata, visto que nem Paulo, nem Pedro e nem Jesus eram ricos (ao contrário, eram pobres!), e que se a teologia da prosperidade não é uma “ilusão” como Jesus diz (Mc.4:19), mas funciona mesmo, então estes deveriam ser os primeiros a desfrutarem desta tão sonhada e desejada “prosperidade financeira”, visto que eles eram os melhores cristãos que já pisaram nesta terra!
É impressionante como hoje se ouve nos púlpitos para seguirmos os exemplos de Jesus, Pedro e Paulo e pregarmos o evangelho assim como eles, mas quando a questão chega no dinheiro, aí a coisa muda: “não seja como Jesus e os apóstolos… seja rico”! Isso chega a beirar o ridículo quando lemos a Bíblia, mas impressionantemente consegue enganar alguns. Como se isso não fosse suficientemente claro, temos o próprio Paulo falando em nome de todo o grupo dos apóstolos acerca da pobreza deles:
-Todo o grupo apostólico:
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:19)
Paulo coloca o verso no plural porque ele está falando em nome de todos os apóstolos e servos de Deus (1Co.15:10-12). Para ele, se é somente para esta vida que esperamos em Cristo, somos os mais dignos de lástima. Nós seríamos os “mais miseráveis de todos os homens” (v.19). A não ser que o apóstolo seja um mentiroso, devemos entender que eles não viviam no luxo, mas na miséria.
Se os apóstolos fossem ricos ou defensores do “evangelho da prosperidade”, então eles não seriam os mais miseráveis de todos os homens, pois haveriam muitos em situação muito pior do que eles! O que a doutrina da prosperidade prega é exatamente o contrário daquilo que o apóstolo Paulo afirma acerca de todos os apóstolos. Ela ensina que temos que ser ricos e que Deus quer nos dar muito dinheiro já nesta presente vida, nos enriquecendo cada vez mais, e que depois partiremos para o Céu e teremos ainda mais. Em outras palavras, nós somos ricos nesta vida e na próxima!
Essa ilusão é completamente rejeitada e desfeita em um único versículo bíblico, pois a realidade bíblica não é de ser rico nesta vida e na próxima, mas sim de ser o mais miserável de todos os homens nesta vida, e ganhar a vida eterna na ressurreição vindoura. Eu poderia terminar esse artigo por aqui que já seria um tiro mortal em toda a teologia da prosperidade, que omite inteiramente dos seus fieis inúmeros versículos da Bíblia, preocupando-se apenas em pregar dinheiro, ao invés de incentivar o povo a ler as Escrituras.
Ela não nos mostra uma vida repleta de prazeres, prosperidade financeira e bens materiais para esta vida. Ao contrário, ela nos garante uma vida de lutas, tribulações e sofrimentos (At.14:22), para sermos aperfeiçoados por meio da dor (Rm.5:2-5), sendo os mais miseráveis de todos os homens (1Co.15:19), os mais dignos de lástima nesta vida (1Co.15:19).
É, portanto, somente na vida futura que seremos galardoados por Deus (1Co.15:18,19; 15:32, Lc.14:14). Jesus disse que a recompensa do nosso trabalho viria na ressurreição dos mortos, e não antes disso: “Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lc.14:14).
Nunca houve e nem jamais haverá qualquer ensinamento tão perverso e antibíblico quanto esse evangelho da prosperidade, que anula a obra de Cristo e neutraliza todos os sofrimentos e misérias que a Bíblia garante que o verdadeiro cristão terá que enfrentar. Ela substitui o realismo bíblico por uma ilusão gananciosa que é em muito atraente aos nossos olhos. É por isso que existe tanta gente iludida com essa mentira: pois preferem a ilusão das riquezas do que a dura realidade da Palavra de Deus.
Paulo também afirma:
1 Coríntios 4
11 Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa,
12 E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos;
13 Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.
Novamente Paulo está falando em nome de todo o grupo apostólico, conforme ele afirma no verso 9:
“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens” (1 Coríntios 4:9)
Os apóstolos eram “os últimos”, e não os primeiros. Por quê? Simplesmente porque eles eram os primeiros dentre os cristãos, então eram aquilo que poderia ser chamado de “lixo do mundo, escória de todos” (1Co.4:13). Graças a Deus que Jesus prometeu que “os últimos serão os primeiros” (Mt.20:16). Preste bem atenção no termo no futuro – “serão”! A promessa é que na vida futura sejamos “os primeiros”, e não nesta presente vida, como alguns pregam!
Ser o primeiro significa ter o poder, riqueza, autoridade. Ser o último, em contraste, significa ser aquilo que Paulo fala com respeito aos apóstolos: estar passando fome, sede, não ter roupas, não ter pousada certa, ser perseguido, sofrer por amor a Cristo, ser o lixo do mundo e a escória de todos! É uma pena que os pregadores da prosperidade omitam todas essas coisas, pois eles querem ser os primeiros, e não os últimos.
Eles querem ter fama, dinheiro, riquezas, poder. Eles querem “crescer na vida”, entendendo que essa expressão significa riquezas materiais. Eles têm a mente focada naquilo que é material, quando “os últimos” são aqueles que abrem mão da sua própria vida material para ter uma visão eterna, pois a nossa riqueza está guardada para o futuro, quando nos encontraremos com Nosso Senhor:
“Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a vida por minha causa, este a salvará” (Lucas 9:24)
Alguns não têm o real significado do que seria “perder a sua vida”. Para eles, Cristo ter dito isso ou nada dá no mesmo. Porém, “perder essa vida” significa abrir mão dela, sacrificá-la por um Bem Supremo, e este bem supremo é Deus. Por amor a Jesus, temos que perder a nossa própria vida. Isso é exatamente o contrário do materialismo pregado na teologia da prosperidade, onde querem viver a vida a vontade, com dinheiro, poder e riquezas. Eles ganham essa vida e querem ganhar também a próxima! Não é a toa que o apóstolo Tiago fez questão de dizer:
“Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias!” (Tiago 5:1-3)
Tiago absolutamente repudia a atitude de “entesourar nos últimos dias”, e se entende que nós estamos vivenciando hoje estes “últimos dias”, não devemos fazer o mesmo, a não ser que tenhamos o desejo de sermos participantes das “desgraças que sobre vós virão” (Tg.5:1).
E por mim eu posso ter certeza que não! (embora dos pregadores da prosperidade eu não possa dizer o mesmo). Essa ânsia em querer ganhar dinheiro com o evangelho é o que mais distancia o verdadeiro cristão da verdade evangélica e que o deixa com a mente focada no material, quando na realidade a nossa esperança não está neste presente mundo, mas naquele que há de vir:
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses 3:18-21)
A nossa esperança não está nesta vida – está na póstuma. Não devemos ficar “pensando só nas coisas terrenas”, como o fazem aqueles “cujo Deus é o ventre” (Fp.3:19), pois pregam o evangelho somente para se satisfazer consigo mesmo em seus deleites. Paulo alude à nossa real esperança – a cidadania celestial -, porque a nossa expectativa não é nas “coisas terrenas” (v.19), mas sim nas coisas celestiais.
A nossa humilhação só vai ser transformada em algo glorioso quando o Senhor Jesus colocar todas as coisas sob o seu domínio, e isso acontece após a ressurreição dos mortos (1Co.15:22,23; 1Co.15:51-54), sendo que o próprio Paulo escreve dizendo que isso ocorre na “transformação de nossos corpos humilhados”, isto é, na ressurreição da carne.
O que muitos fazem hoje é inverter este quadro. Eles querem viver luxuosamente e em glória já nesta presente vida. O fim que eles terão será a humilhação. Os que querem, porém, viver humildemente e modestamente esta vida, terão o seu “corpo de humilhação” transformado em glória quando o Senhor Jesus voltar.
Os pregadores da prosperidade em nosso meio querem ensinar basicamente aquilo que o ex-presidente Lula disse publicamente: que aquilo que Cristo disse sobre o Reino dos Céus e os pobres é “bobagem”, e que temos que receber a nossa herança agora mesmo:
“Bobagem, essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo tá no futuro (…). Queremos que todo mundo vá pro céu, agora. Queremos ir pro céu vivo. Não venha pedir para a gente morrer para ir pro céu que a gente quer ficar aqui mesmo” (Lula em discurso em Salvador/BA, em 21/07/2011 – confira aqui)
E é exatamente isso o que os pregadores da prosperidade estão pregando hoje. Eles só não dizem abertamente que Jesus falava “bobagem”, mas ensinam exatamente a mesma coisa. O que o Lula fez foi simplesmente admitir o óbvio: que tal ensinamento é tão contra aquilo que Jesus disse, que o que Cristo disse pode ser considerado “bobagem”! Eles querem o Reino dos Céus agora, querem as riquezas agora, não querem esperar o futuro.
A Bíblia, contudo, nos mostra que serão os pobres que herdarão o Reino dos Céus, e que a nossa verdadeira esperança está reservada para nós nos céus, sendo que iremos possuí-la no momento de nossa entrada no Reino, na ressurreição dos mortos para a vida eterna (Fp.3:18-21; 1Pe.1:14).
Qualquer ensinamento que seja diferente disso e que coloque a esperança de riquezas para esta presente vida, seja vindo de um pastor ou de um presidente, deve ser rejeitado, pois temos a clareza de alguém muito maior, um “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap.19:16), alguém que é digno de muito mais confiança do que qualquer presidente aposentado ou pregador da prosperidade.
Finalmente, é importante também mencionarmos a extrema pobreza das próprias comunidades cristãs (piedosas a Deus), para acabarmos de uma vez por todas com essa heresia de que o Corpo de Cristo tem que ser “rico”:
-A pobreza das igrejas cristãs:
“Desejamos dar-vos a conhecer, irmãos, a graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. Em meio a tantas tribulações com que foram provadas, espalharam generosamente e com transbordante alegria, apesar de sua extrema pobreza, os tesouros de sua liberalidade” (2 Coríntios 8:1,2)
Paulo é enfático aqui: as igrejas da Macedônia viviam em “extrema pobreza” (v.2)! Dispensa maiores comentários. Mas alguém ainda poderia tomar a palavra e dizer: “Mas Lucas, isso era uma exclusividade daqueles hereges não-prósperos da Macedônia. Vai ver que lá em Jerusalém era diferente…”! Era diferente? Vejamos:
“A Macedônia e a Acaia houveram por bem fazer uma coleta para os irmãos de Jerusalém que se acham em pobreza” (Romanos 15:26)
Note que a igreja de Jerusalém também se achava em pobreza! A situação na verdade era tão decadente, que os próprios macedônios, que viviam em “extrema pobreza” (2Co.8:2), tinham que fazer doações aos crentes de Jerusalém, porque estes eram ainda mais pobres! Bom, se isso tudo significa “teologia da prosperidade”, então esqueça a exegese e o bom senso e vamos tomar como regra de fé apenas a mais pura ganância e ignorância bíblica!
A única comunidade cristã registrada na Bíblia que tinha certa fartura e riqueza é a igreja de Laodiceia que, curiosamente, é também duramente repreendida e corrigida por Deus por causa disso:
Apocalipse 3
14 Ao anjo da igreja em Laodicéia escreva: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus.
15 Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!
16 Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.
17 Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.
18 Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.
Deus fez com que propositalmente a maior crítica severa a uma igreja cristã fosse exatamente dirigida àquela que era a mais rica! Se Deus fosse da linha da prosperidade financeira através do evangelho, claramente iria fazer com que o inverso fosse verdadeiro: que as igrejas mais ricas fossem as mais elogiadas por sua “demonstração de fé” e que as mais pobres fossem desprezadas por não fazerem uso de fé e viverem na miséria por causa disso!
Embora alguns hereges digam coisas do tipo, tais exemplos jamais ocorrem na Bíblia Sagrada, sendo que as comunidades cristãs mais carentes eram precisamente as mais elogiadas e as mais ricas e “prósperas” (se levar em consideração que prosperidade é igual a “riquezas”) eram exatamente aquelas que Deus diz que iria vomitar de sua boca, que deveria cobrir a sua vergonhosa nudez e que deveria comprar colírio para ungir seus olhos!
Além disso, embora a igreja de Laodicéia fosse bem rica, Deus afirma: “Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico” (v.18). Note o termo no futuro – “se tornará rico”. Ora, mas os laodicenses não eram ricos? Sim, eram materialmente. Porém, as “riquezas” no olhar de Deus não tem absolutamente nada a ver com riquezas terrenas, mas sim com espirituais. Você ser rico para Deus não significa possuir mansões, carros importados ou paraísos fiscais, mas sim viver uma vida de santidade com boas obras.
Fora disso, qualquer outro tipo de “prosperidade” (financeira) não passa de mera ilusão. Todos os fatos apontam claramente que a teologia da prosperidade financeira é, como Jesus diz, uma “ilusão” (Mc.4:19), que torna os cristãos “infrutíferos” (Mc.4:19), pois são ILUDIDOS com esta mentira e acabam acreditando mesmo que serão “abençoados” (entende-se “ricos”). E, quando batem de cara com a verdade do evangelho e veem que não se tornaram ricos coisa nenhuma, ficam desesperados e muitas vezes fogem para qualquer seita, macumba ou seja lá o que for para poderem recuperar o tempo perdido. Foi por isso que Jesus disse para o jovem rico se DESFAZER de suas riquezas:
Mateus 19
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
22 E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
23 Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
24 E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
Embora em NENHUM momento nós vemos Jesus pregando a tal da “teologia da prosperidade” ($$$), nós vemos ele dizendo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo da agulha do que um rico no reino de Deus (Mt.19:24), que é difícil entrar um rico no reino dos céus (Mt.19:23), e para vender tudo e dar aos pobres, porque é somente desta maneira (se desfazendo das riquezas terrenas) que podemos herdar o “tesouro no céu” (Mt.19:21).
Convenhamos: se as riquezas fossem algo que Deus quer dar cada vez mais ao povo de Deus, então porque Jesus não fez aquele jovem ainda mais rico (como os pseudo-“teológos” da prosperidade ensinam), mas ao contrário, quis desfazer dele todas as suas riquezas? Essas perguntam atormentam a mente de tais pessoas que, sem poderem abrir a Bíblia para defenderem suas crenças gananciosas, não conseguem entender que a verdadeira riqueza não é a material, mas sim a espiritual:
“Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino prometido por Deus aos que o amam?” (Tiago 2:5)
Os pregadores da prosperidade escolhem os ricos; já Deus, por outro lado, escolheu os pobres deste mundo, para que estes fossem ricos, não em dinheiro, mas em fé. Porque a verdadeira riqueza não consiste na quantidade de bens deste mundo, mas sim na fé que a pessoa tem em Cristo:
“Então lhes disse: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 11:5)
Se Deus quisesse que todos fossem ricos, ou se o evangelho oferecesse uma prosperidade financeira aos fieis em Cristo, então os crentes seriam os ricos, e não os pobres. Consequentemente, Deus teria escolhido pessoas “ricas em dinheiro”, e não os “pobres deste mundo”! São os pobres deste mundo – e não os ricos – que são os “ricos na fé” e “herdeiros do Reino” prometidos por Deus (Tg.2:5)!
E não foi apenas para aquele jovem rico que Jesus disse tal coisa. Ele genericamente disse também:
“Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lucas 12:33,34)
Portanto, a lição de Cristo para aquele jovem não é uma opinião diferente em relação àquilo que ele tem a nos dizer para a “multidão”. Ele diz para vendermos o que possuirmos e darmos esmolas, pois “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc.14:34).
Isso significa que se você está querendo enriquecer ou se está cheio das riquezas, então o seu coração ali está. Mas se você se desfaz das riquezas e dá o dinheiro aos pobres (como Cristo disse), então o seu coração estará inteiramente focado no Pai. Não há dificuldades em entender um ensinamento tão simples como esse, a não ser para quem gosta de complicar o evangelho simples e puro revelado a nós nas Escrituras. Foi por isso que Jesus disse:
Lucas 16
13 Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.
14 Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus.
15 Ele lhes disse: Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus.
Aquilo que tem muito valor entre os homens (DINHEIRO), é detestável aos olhos de Deus! Note pelo contexto que Jesus estava falando claramente com respeito ao dinheiro (vs. 13 e 14), sobre a insistência tola de alguns em servir “a Deus e ao Dinheiro” (v.13), e depois corrigindo os fariseus que “amavam o dinheiro” (v.14). Se o dinheiro é detestável aos olhos de Deus (pois tem muito valor entre os homens), então como é que ele iria querer que cada crente enriquecesse cada vez mais???
A não ser que Deus fosse um ser bipolar, que uma hora diz uma coisa e em outro momento diz outra, que uma hora diz que o dinheiro é detestável aos seus olhos e em outra hora prega uma “teologia da prosperidade” em que quer ver cada crente ganhar cada vez mais uma espécie detestável aos seus olhos!!! Como crer em algo assim? É evidente que Deus é “o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb.13:8), ele é Aquele que “não muda como sombras inconstantes” (Tg.1:17).
Desta forma, o que ele disse é a mais pura verdade. Mas se alguém ainda quiser ter cada vez mais e mais aquilo que é detestável aos olhos de Deus, aí é questão particular de cada um. Eu só peço sinceramente que não deturpe o evangelho, dizendo que o próprio Jesus era rico ou que a verdadeira riqueza consiste na ostentação de bens, algo que é simplesmente absurdo à luz do evangelho puro e sincero. Afinal, “onde está o teu tesouro, ali também estará o teu coração” (Mt.6:21). O seu tesouro está na sua conta do banco? Então tema, antes que seja tarde demais.
Finalmente, termino essa parte com as palavras de Jesus aos pobres:
“Olhando para os seus discípulos, ele disse: Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus. Bem-aventurados vocês, que agora têm fome, pois serão satisfeitos. Bem-aventurados vocês, que agora choram, pois haverão de rir” (Lucas 6:20,21)
Ao invés de Jesus dizer que bem-aventurados seriam os ricos da “teologia da prosperidade” (pois todo cristão que tem fé tem que enriquecer), ele diz que bem-aventurados seriam exatamente os pobres, que de acordo com a teologia da prosperidade seriam exatamente aqueles que não fazem uso de sua fé e que por isso estão na miséria! Além disso, Jesus chama de bem-aventurados aqueles que agora passam fome, e não esses que enriqueceram com base nessa falsa doutrina herética e altamente ofensiva à fé cristã, que é a teologia da prosperidade.
E também termino com as palavras de Jesus aos ricos, que, é claro, não poderiam ficar faltando:
“Mas ai de vocês, os ricos, pois já receberam sua consolação. Ai de vocês, que agora têm fartura, porque passarão fome. Ai de vocês, que agora riem, pois haverão de se lamentar e chorar” (Lucas 6:24,25)
Ao contrário do que Jesus disse aos pobres, quando a mensagem chega na parte dos ricos a conversa muda completamente. Ele passa a dizer que estes deveriam temer, lamentar e chorar, pois já receberam a sua consolação (sinal de que não receberão nenhuma consolação futura!). Também diz que eles passarão fome futuramente (v.25).
Tudo isso nos mostra que, nos ensinamentos de Jesus, além de absolutamente nada apontar para a herética tese da prosperidade popular, que nasceu em pleno século XX depois de Cristo(!), o que ele realmente enfatiza é a bem-aventurança daqueles que são pobres nessa terra, jamais querendo dizer que estes estão nessa posição por falta de fé, ou que deveriam ser ricos através de uma teologia de prosperidade financeira.
Ele não os encoraja a entrarem numa igreja neopentecostal e aderirem a uma das várias campanhas de prosperidade, para que ainda nesta vida possam deixar a pobreza e serem ricos. Muito pelo contrário. Ele coloca a vida futura (vida eterna) como sendo a bem-aventurança deles. Ao contrário da teologia da prosperidade, que quer enriquecer as pessoas nesta terra, Cristo quer nos apontar sempre ao caminho da eternidade, abrindo mão dos bens e prazeres desta vida para ganharem uma posse muito maior, uma “herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada para vós nos céus” (1Pe.1:4). Nos céus, e não na Terra!
Se os crentes tem que enriquecer por meio do evangelho, então o quadro seria precisamente o inverso. Os pobres seriam aqueles que não fazem uso da fé e do chamado “pensamento positivo”, e os ricos seriam aqueles que seguiram corretamente o evangelho, sendo elogiados por Cristo em função disso.
É óbvio que tal quadro está longe de ser realidade, pelo simples fato de que Jesus repudiava absolutamente essa heresia que mais devasta e assola o meio evangélico nos nossos dias. Alguns pastores dos dias de hoje estão querendo tirar o povo a qualquer custo do primeiro grupo (dos pobres) para o segundo grupo (dos ricos). Eles só esquecem de avisar que junto a isso eles transferem consigo também a bem-aventurança de Cristo aos pobres, para fazer parte das ameaças ditas aos ricos.
ANALISANDO AS PASSAGENS UTILIZADAS PELOS PREGADORES DA PROSPERIDADE
Mas como toda heresia tem os seus versículos bíblicos isolados e tirados fora do seu contexto, com a teologia da prosperidade não pode ser diferente. Afinal, se não houvesse uma meia dúzia de versos isolados, ninguém iria dar tanta bola assim para essa doutrina. Assim, nos cultos se repete, repete e repete cada vez mais os mesmos versículos bíblicos, até que a mente do povo fique corrompida e eles possam realmente acreditar numa heresia tão patentemente antibíblica, ainda mais para quem seriamente lê as páginas do Novo Testamento de maneira sincera e verdadeira.
Novamente repito: não estou dizendo que todo mundo que crê na teologia da prosperidade não é honesto ou verdadeiro. O que eu estou dizendo é que existem certos pregadores que não são tão honestos assim (pois deveriam ter o conhecimento das Escrituras e pregar as coisas certas ao povo, antes que tentar iludi-los com o “engano das riquezas” – Mc.4:19), e estes pregadores acabam muitas vezes enganado também muitas pessoas de bem, algumas que realmente buscam a Deus sinceramente e o adoram em Espírito e em Verdade, como Jesus disse (Jo.4:24).
Mas apenas o fato de tais pessoas adorarem a Deus verdadeiramente não significa que elas não possam ser ludibriadas em algum ponto. O diabo atira os seus “dardos inflamados” (Ef.6:16) para todos os lados, tentando acertar alguém, até mesmo os cristãos mais verdadeiros e piedosos que existem. É por amor a estas pessoas que, depois de um bom tempo sem comentar o assunto, eu escrevo este texto para acabar de uma vez com tal ensino que engana cristãos verdadeiros.
E se tais pessoas são realmente cristãos verdadeiros, então irão admitir que estavam enganadas e vão querer ser libertas, a não ser que queiram deliberadamente continuarem no engano mesmo depois de descobrirem a verdade bíblica com respeito a este tema. Neste caso, se deliberadamente continuarem querendo ser enganadas, ou quiserem continuar crendo em algo que já sabe que é antibíblico, aí não sobrará mais nada a tais pessoas senão isso aqui:
“Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que há de devorar os rebeldes” (Hebreus 10:26-27)
Porém antes que chegue a tal ponto, creio que seja necessário apresentar devidas refutações a algumas passagens historicamente utilizadas (e mal utilizadas, por sinal) por aqueles que pregam tal doutrina. A principal delas certamente é quando Paulo escreve aos coríntios, dizendo:
“Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos” (2 Coríntios 8:9)
Interpretam, então, primeiramente duas coisas que não existem no texto, mas que são fundamentais para a teologia da prosperidade funcionar:
1. Que essa riqueza é material e consiste em bens materiais.
2. Que essa riqueza não é uma posse futura celestial, mas que os coríntios já detinham.
Evidentemente, nem um ponto e nem o outro conseguem se sustentar através de uma exegese simples e básica. Em primeiro lugar, porque Paulo estava traçando um contraste entre Jesus e nós. Ele intercambiavelmente faz comparações entre o mundo espiritual e material, o que é pouco discernido por muitos. Vamos passo a passo ver o que Paulo estava dizendo neste verso, parafraseando-o:
1. “…Cristo, sendo rico” – riqueza espiritual, celestial.
2. “…se fez pobre” – pobreza material, terrena.
3. Para que nós, “por meio de sua pobreza…” – pobreza material, terrena.
4. Tornemos-nos “ricos” – riqueza espiritual, celestial.
O apóstolo Paulo estava simplesmente traçando uma analogia onde ele mostra que Cristo “trocou de lugar conosco”. Ele era “rico” (no Céu), mas se fez “pobre” (na Terra). Então, os cristãos (que são pobres) podem tornar-se ricos (no Céu). Se essa riqueza fosse algo terreno e material, então além de toda a analogia de Paulo entre nós e Cristo ir para o espaço, também deveríamos pensar que a “riqueza” de que ele está falando era algo material e terreno.
Porém, vemos que essa “riqueza” que ele fala acerca de Cristo, e que nós iremos possuir também, diz respeito a uma riqueza celestial (que Cristo possui). Portanto, seguindo esta mesma lógica, a riqueza que nós possuiremos é a mesma de Cristo (a espiritual, e não terrena). Ele está dizendo que nós seremos ricos como Cristo. Mas em que sentido que Cristo era rico? Na terra? Não, no Céu!
Portanto, o que Paulo está apontando neste verso específico não é nada contraditório àquilo que ele SEMPRE afirmava em suas epístolas, que nós somos “pobres” (1Co.4:11-13), mas herdaremos uma recompensa incorruptível e gloriosa no futuro, quando Jesus voltar (Fp.3:20,21). Quando isso acontecer, o quadro que Paulo descreve em 2Cor.8:9 se completa: Cristo volta e nós subimos, para sermos ricos como ele.
É neste sentido que Paulo aplica as “riquezas” que ele infere. Seria muito estranho que essas “riquezas” dissessem respeito a algo físico e terreno, pois além da analogia ser mal feita, deveríamos pensar também que os próprios coríntios (a quem Paulo destina a carta) eram ricos! Ora, não é preciso ser nenhum “historiador” para saber que isso é uma completa inverdade. Já vimos anteriormente que as comunidades cristãs eram essencialmente pobres.
Além disso, Corinto ficava na província da Ásia, sendo que era o Império Romano quem subjulgava a quase todos e mantinha o domínio territorial e autoritativo à altura do Séc.I. Os coríntios nem eram ricos, nem tampouco faziam parte de Roma! Eles simplesmente eram pobres, assim como a grande maioria das demais comunidades cristãs da época, espalhadas em toda a Ásia e Judéia.
Portanto, Paulo não poderia estar falando que os coríntios eram ricos ou que o objetivo de Cristo em se fazer pobre foi em nos tornar ricos para esta vida e em termos materiais, pois os próprios coríntios não eram ricos! É óbvio que Paulo estava falando de riquezas celestiais, assim como o próprio Senhor Jesus afirmou:
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam” (Mateus 6:19)
Ora, se Cristo veio para nos tornar ricos em matéria de dinheiro para esta vida, então por que ele foi afirmar exatamente para “não ajuntarmos tesouros [riquezas] na terra”? A resposta é óbvia: Porque a nossa riqueza não está na terra, mas no Céu, a nossa pátria! Portanto, o que Paulo diz em 2Cor.8:9 é essencialmente o mesmo daquilo que Jesus afirma em Mateus 6:19 – que não devemos ajuntar riquezas terrenas, mas sim entesourar (por meio da fé) “tesouros” (espirituais) para a vida futura (a vida eterna), onde seremos “ricos”.
Nada, em absolutamente lugar nenhum, faz pensar que Jesus ou Paulo queria que nós ajuntássemos riquezas na terra ou que Cristo deu a sua vida por nós para que tivéssemos dinheiro nesta vida! Esta interpretação é uma blasfêmia contra a obra de Cristo na cruz, que em nada tem a ver com o dinheiro terreno, que o próprio Jesus afirma para se desfazer e dar aos pobres (Lc.12:33,34)!
Mas o pior é que não para por aqui (ainda tem mais vindo, prepare-se!). Outra passagem utilizada por eles está na primeira carta de Paulo ao jovem Timóteo, em que ele diz:
“Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação” (1 Timóteo 6:17)
Por essa frase “…que de tudo nos provê ricamente”, eles novamente interpretam que Paulo estava falando de riquezas temporais. É uma pena, pois se lessem o versículo seguinte, veriam exatamente de que riqueza de Paulo estava falando:
“Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir” (1 Timóteo 6:18)
Ou seja, ricos em… boas obras! A riqueza verdadeira não é em bens terrenos, mas em boas obras. Ademais, o fato de Deus nos prover não tem nada a ver com ele nos tornar ricos. Alguém pode ser suprido por Deus, sem necessariamente ser rico. Eu não sou rico, mas tenho o que comer, beber, se vestir, etc. Ou seja, Deus está me provendo.
E, mesmo se eu não tivesse nada disso (como quase todos os apóstolos não tinham), eu não iria blasfemar dizendo que é porque “Deus não está me abençoando” ou porque “eu estou na miséria por não ter fé”, como alguns lobos em pele de cordeiro dizem. Tais pessoas querem ter uma fé maior do que a dos apóstolos e, como a fé deles é baseada nas riquezas terrenas (como não poderia ser diferente), então pensam que se alguém não é rico é porque não tem fé!
Voltando à passagem de 1Timóteo, penso que contextualizar essa passagem também seja eficiente para vermos novamente que, conforme eu expliquei acima, Paulo não está dizendo que nós seremos ricos, mas sim que Deus nos dará o SUFICIENTE para vivermos, exatamente conforme ele disse poucos versos antes:
1 Tmótreo 6
3 Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino que é segundo a piedade,
4 é orgulhoso e nada entende. Esse tal mostra um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca de palavras, que resultam em inveja, brigas, difamações, suspeitas malignas
5 e atritos constantes entre pessoas que têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro.
6 De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro,
7 pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar;
8 por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.
9 Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição,
10 pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.
Paulo aqui parece estar escrevendo exatamente aos pregadores da prosperidade dos dias atuais. Estes querem ficar ricos, e pior: querem que a sua ganância sem limites atinja também o povo simples, para que estes também queiram ficar ricos! Contudo, Paulo exorta dizendo que tais pessoas caem em tentação e armadilhas do maligno (lembre-se do que eu disse no início deste artigo), mergulhando na ruína da destruição. Estes “pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm.6:5).
De fato, a coisa chegou a tal ponto que eles vendem até “lenço ungido”, “sabonetes consagrados” (sabe-se lá pra quem), “santinho”, “fitinhas”, moedas da sorte, etc, etc, etc… coisas que nenhum apóstolo foi louco de fazer, pois a piedade não é fonte de lucro! Ah, como eu já estava quase me esquecendo: eles quase sempre cobram por tudo isso, é claro!!! Afinal, eles não são nem um pouco bobos. É uma pena que o povo de Deus não se alerte contra tais aberrações.
Há uns tempos atrás eu vi uma “igreja” vendendo “sabonetes consagrados”. A pessoa limpa o corpo com o sabonete e sai todo tipo de demônio. Antes eu ria com essas aberrações, mas hoje a minha vontade é de chorar, chorar por essas pessoas que colocam a fé delas numa porcaria de um sabonete ao invés de colocar a fé delas no Invisível, mas real, o Deus Eterno e Imortal, o “que habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém” (1Tm.6:16).
As pessoas estão cada vez mais precisando de ($$$$$) e de objetos físicos para colocar a sua fé, pois Jesus Cristo não está sendo o suficiente para elas. Não é o meu objetivo ficar aqui apontando erros em igrejas, mas a verdade deve ser dita, deve ser proclamada, não para que haja mais intrigas, mas sim para concertarmos os erros, algo que é profundamente necessário. O próprio apóstolo Paulo repreendeu Pedro face a face em Antioquia, “porque a sua atitude era repreensível” (Gl.2:11).
Se o próprio Pedro teve a sua atitude declarada como repreensível e foi repreendido, o que não dizer ou fazer com fanfarrões líderes que transformaram o evangelho puro de Cristo em dinheiro, e quiseram fazer do magnífico evangelho uma fonte de lucro pessoal? O apóstolo Paulo é muito claro: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos!
Isso significa que a verdade do evangelho NÃO É DE ACUMULAR RIQUEZAS, também NÃO É DE FICAR CADA VEZ MAIS RICO, nem tampouco de SER RICO ou de TER MAIS QUE O SUFICIENTE. Ao contrário, a verdade do evangelho consiste em ficar satisfeito com aquilo que tem e não querer mais! Mas para os que querem MAIS, Paulo escreve nos versos 9 e 10 o que acontece com eles: “ruína e destruição” (v.9)!
Por fim, creio também ser necessário comentar sobre uma última passagem utilizada por eles, se bem que essa eu acho que nem vale a pena, pois novamente o erro está no “be-a-bá” da argumentação, em inferir ou imaginar que a abundância que Deus nos concede significa riquezas materiais (leia-se “$$$”), quando Cristo de modo nenhum quis dizer isso quando disse isso daqui:
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10)
Agora me diga: aonde é que está escrito neste verso que os cristãos têm que ser ricos ou que Deus quer que nós ajuntemos para si tesouros na terra??? A não ser que a expressão “abundância” (leia-se “dinheiro”, para os teólogos da “prosperidade”) seja levada a um sentido extremamente materialista, o que não seria muito de se imaginar vindo de gente que não pensa em outra coisa senão no “Cri$tiani$mo” pregado em alguns lugares, onde a abundância significa dinheiro. É mais que óbvio que Jesus não estava dizendo que nós temos que ser ricos, mas sim que nós vamos viver uma vida de abundância, e como ele próprio disse, essa abundância não consiste de forma alguma em bens materiais:
“Então lhes disse: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 11:5)
Se não é na “quantidade dos seus bens” (riquezas), então no que é? Deixe-mos que o próprio Cristo nos responda:
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27)
Essa “abundância” de que Cristo fala trata-se da paz interior que aqueles que estão em Cristo sentem por viver uma vida de santidade em amor a Deus. Elas são preenchidas interiormente, não com riquezas ou ostentação de bens, mas sim com uma satisfação interior, uma paz que Cristo nos dá, o Espírito Santo da nossa consolação que é a garantia da nossa redenção até o dia da volta do Nosso Senhor (2Co.5:5). Essa “paz interior” não tem nada a ver com dinheiro, pois dinheiro não traz felicidade! Ele pode trazer uma falsa ilusão de felicidade (a “paz que o mundo dá”), mas que na verdade resulta em mortes e depressão profunda.
É por isso que os países mais desenvolvimentos do mundo (como a Suécia e Noruega) “misteriosamente” também são as mesmas que mais tem casos de suicídio! Por que eles se suicidam tanto? Simplesmente porque eles não têm a verdadeira paz (a paz de Cristo). Eles têm é uma ILUSÃO de paz, a paz que o mundo dá, que consiste nas riquezas terrenas, e que levam o homem à perdição. Note que Cristo faz uma forte antítese entre a paz que ele concede (PAZ INTERIOR) com a paz que o mundo concede (RIQUEZAS).
Se a paz de Cristo também consistisse em riquezas, então ele não faria tal distinção clarissima, dizendo que “a minha paz vos dou, não a dou como o mundo a dá”! O mundo oferece riquezas, bens materiais, “tesouros” como sendo a fonte dessa paz. Cristo, ao contrário, nos oferece uma paz diferente, porém muito mais significativa: Ele nos oferece uma paz interior, a santidade, a redenção pelo Espírito. E é essa a esperança dos cristãos, essa é a “vida em abundância” que Cristo diz!
O mais impressionante é que os pregadores da prosperidade oferecem hoje em dia exatamente o contrário da paz de Cristo: eles nos oferecem exatamente aquela mesma paz que o mundo nos dá, eles nos oferecem riquezas, bens materiais, e tem ainda a ousadia de deturparem as próprias Escrituras para este fim!
São, como Pedro diz, “ignorantes e instáveis que torcem as Escrituras para a sua própria perdição” (2Pe.3:16). Tomara a Deus que o povo de Deus cresça em maturidade espiritual, deixando para trás os seus sofismas a fim de voltar ao simplismo do evangelho, que nunca nos ofereceu riquezas; mas nos promete, ao contrário, tribulações e sofrimentos, pois “é necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (Atos 14:22). Eles querem tirar as tribulações, substintuindo-as por dinheiro. Eles iludem seus fieis fazendo-os pensar em prosperidade financeira, quando eles deveriam olhar para a Escritura e pensar em tribulações!
Finalmente, se essa “abundância” significa bens materiais e riquezas terrenas, então o próprio Cristo não tinha uma “vida em abundância”, visto que ele era pobre (2Co.9:9; Lc.9:58)! Ora, como é que Cristo iria dar a sua paz a nós, se essa paz consiste em dinheiro e o próprio Jesus não tinha riquezas? Se essa abundância provém de Cristo, então ela não provém de dinheiro, a não ser que Jesus fosse multimilionário.
A partir disso podemos ver como que a teologia da prosperidade acaba se metendo em abismos cada vez maiores. Eles deturpam uma passagem bíblica que implica em dizer que o próprio Cristo não vivia uma vida em abundância, e que nós temos que viver uma vida melhor que a de Cristo! Misericórdia!!! Por essa e por outras, eu prefiro ficar com a Bíblia – e contra a teologia da prosperidade e seus versos isolados, que desviam o foco de Cristo e que acabam resultando nisso:
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: O ATALHO FÁCIL QUE CONDUZ À PERDIÇÃO – O “CAMINHO ESPAÇOSO” (Mt.7,13)
“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lucas 9:23)
Não existe o “morrer para si mesmo” (Lc.9:23) na teologia da prosperidade, mas somente uma vida de riquezas e bens materiais. Paulo, porém, disse:
“Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro” (Romanos 8:36)
“Declaro, irmãos, pelo regozijo que tenho a vosso respeito em Cristo Jesus nosso Senhor, que morro todos os dias” (1 Coríntios 15:31)
O ensino de que Deus quer que sejamos ricos gera, além de cristãos materialistas, uma verdadeira apatia à “morte” descrita no evangelho. Como alguém com um excepcional carro, mansão, dinheiro de sobra e bens materiais superabundantes pode morrer todos os dias? Esse estilo de vida está muito longe de ser a morte que Paulo fala, o “morrer para si mesmo” que Cristo diz! Negar a si mesmo e morrer para a sua própria vida certamente não condiz com a posição de alguém que, enriquecendo cada vez mais, torna-se apegado aos bens materiais.
É somente com a morte que Cristo produz vida. Como Paulo disse, “o que você semeia não nasce a não ser que morra” (1Co.15:36). Se você vive luxuosamente e não morre para esta vida, não pode ganhar a próxima. A vida cristã não é feita de uma porta larga e um caminho amplo, mas sim de uma “porta estreita” (Lc.13:24) e de um “caminho estreito” (Lc.13:24). O evangelho da prosperidade é exatamente o oposto disso: é o caminho amplo, que leva muitos à perdição.
Não adianta apenas entrar pela porta estreita, tem que se seguir o caminho estreito! Uma vida cheia de riquezas e bens materiais, longe de ser a negação de si mesmo, está muito mais para o caminho amplo, em direto contraste com aqueles que negam a si mesmos, tomam a sua própria cruz e seguem o caminho apertado, abrem mão de riquezas e bens materiais, tornam-se os dignos de lástima por amor a Cristo, pois sabem que possuem bens superiores esperando-os na Jerusalém Celestial.
A teologia da prosperidade, querendo ser a “arca de Noé” que oferece algo que é atraente aos olhos de quem está em dívidas e quer se refugiar nela, na verdade acaba sendo o próprio dilúvio. Ela é a porta estreita, ela é o caminho estreito. É por ela que se passa aqueles que procuram o atalho: uma vida em que tomar a sua cruz não é tão necessário assim, pois é mais fácil tomar o seu carro de uma última geração e ter o seu bolso cheio do que levar a própria cruz.
É por essas e outras que a teologia da prosperidade não pode ser aceita por nenhum cristão sério que tenha prazer na verdade, e que queira realmente seguir o caminho estreito, antes que os atalhos que a vida nos oferece. Esses atalhos parecem melhores e menos dolorosos para se chegar a Deus. Eles parecem nos indicar uma vida de riqueza e prosperidade, fazendo-nos pensar que podemos ser muito ricos e mesmo assim entrarmos no Reino dos Céus, como um típico e verdadeiro atalho.
A vida que Cristo nos propõe não é essa. Ele diz que é mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus, para mostrar como que o caminho das riquezas não passa de um atalho que desvia o verdadeiro cristão da verdadeira fé. É somente seguindo o caminho estreito – uma vida de tribulações e sofrimentos, abrindo mão daquilo que lhe é mais do que o suficiente – que podemos adentrar os portões celestiais, sabendo que não tomamos nenhum atalho ou caminho fácil, mas sim aquele prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelos apóstolos de Nosso Senhor: o caminho da adversidade e da negação própria.
CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A luz de tudo o que foi dito, não cabe aqui estraçalhar mais com essa doutrina e bombardear mais passagens bíblicas – deixemos isso para uma outra oportunidade. O meu objetivo aqui, neste presente artigo, já foi concluído. Antes, porém, deve ser feito um resumo por pontos, não daquilo que foi dito (que já está claro em todo o texto), mas sim daquilo que não foi dito, para evitar deturpações de meu texto, por pessoas que vão tentar deturpar as minhas palavras assim como deturpam as das Escrituras.
1. Eu não disse que por ser pobre alguém vai pro Céu. A salvação não está condicionada aos bens materiais, mas sim à fé em Cristo Jesus (Ef.2:8). É claro que a própria analogia de Cristo com o camelo e a agulha nos revela que é muito difícil um rico entrar no reino de Deus (Mt.19:23), e Tiago acrescenta que Deus escolheu os pobres para serem ricos na fé e herdarem o Reino (Tg.2:5). Isso não significa que nenhum rico possa ser salvo, mas dificulta as possibilidades de tal coisa suceder, visto que não é possível servir a dois senhores ao mesmo tempo: ou é a Deus, ou é ao Dinheiro (Mt.6:24), pois “onde está o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lc.12:34). O caso do rico da parábola ir para o tormento e o pobre ser salvo é uma grande tipologia disso (Lc.16:19-31).
2. Eu não disse que Deus não pode prosperar absolutamente ninguém. Embora rarissimamente isso ocorra na Bíblia (e nunca ocorra com um apóstolo ou com alguma igreja, senão a de Laodicéia, que foi claramente repreendida por Deus por causa disso – Ap.3:14-18), isso ocorre em alguns casos isolados, como o de José de Arimatéia (Mt.27:57). Ele não era rico porque tinha mais fé do que os outros (como Pedro, Paulo ou Jesus), mas sim porque Deus quis assim. “Quem é você, é homem, para quesionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim’?” (Rm.9:20).
3. Eu não disse que os cristãos tenham que “viver na miséria”. O que eu claramente disse foi que, ainda que você viva na miséria, não deve colocar a culpa em Deus ou na sua “falta de fé”. Constantemente vemos os próprios apóstolos vivendo em “miséria”, com necessidade de tudo – de tudo mesmo (1Co.4:11-13)! E não era porque eles não tinham fé. Algumas pessoas estão na miséria simplesmente porque este é um tempo que Deus está tratando com elas desta maneira (volte e leia Romanos 9:20, junto a Atos 14:22).
4. Eu não disse que você não tem que ter dinheiro nenhum. O que eu claramente disse foi que temos que nos contentar com o que é suficiente para vivermos, e não querendo mais do que isso. Querer sempre mais tem um nome: ganância! O autor de Hebreus é bem claro: “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb.13:5). Mas, se porventura você ganhar mais que o suficiente, o que fazer com o dinheiro? Simplesmente siga a instrução de Jesus Cristo: dê o dinheiro aos pobres (Lc.12:33,34), ou então contribua em alguma missão evangelística na África ou na Ásia, onde os cristãos missionários estão enfrentando grandes aflições e necessidades. Eu mesmo nunca fiquei com um tustão para mim mesmo. O que vem de aniversário, ano novo, mesada, etc, vai tudo para o campo missionário, pois sei que eles precisam deste dinheiro MUITO mais do que eu! Se você se encontra nesta mesma situação, pense bem nisso antes de gastar a sua “sobra” em algum carro novo, casa nova, televisão nova ou computador novo, enquanto existem cristãos que não tem nem sequer carro, casa, televisão ou computadores velhos! Se Deus permitiu que você tivesse mais dinheiro que a maioria, não é porque ele quer que você ajunte tesouros nesta terra (ver Mateus 6:19), mas sim porque ele confia que você contribua cada vez mais no avanço do Reino de Deus com as suas riquezas investidas no campo missionário ou aos necessitados.
Depois de tudo isso, concluo o meu artigo admoestando ao povo de Deus a pensar muito bem em cada palavra que foi dita, especialmente aqueles que são partidários desta doutrina. Não estou me referindo aos que defendem essa teologia apenas por ganância, pois sei que estes vão desprezar um estudo bíblico como esse. Estou me referindo às pessoas cristãs que infelizmente se encontram iludidas com tal doutrina, até mesmo podem estar hoje ensinando pessoas desta maneira e consequentemente iludindo outros também. O meu sincero apelo a tais pessoas é o mesmo de Paulo: “não ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus” (1Tm.6:17).
Termino aqui com uma pregação de Donnie Swaggart descendo a lenha na doutrina satânica da teologia da prosperidade, e com outra do excelente pastor John Piper, sobre o verdadeiro evangelho em direto contraste com o “evangelho” pregado pelos pregadores atuais da prosperidade. Poderia passar vários outros vídeos de muitos outros pastores honestos, tais como Paul Washer, David Wilkerson, e vários outros que em meio a tanta apostasia fazem frente contra este ensinamento perverso que nasceu com Kenneth Hagin e hoje é grandemente difundido pelos seus súditos, porém creio que estes dois sejam suficientes. Recomendo muito que vejam os dois vídeos, para vermos como o evangelho da prosperidade não fará ninguém louvar a Jesus, mas sim a sua própria prosperidade.
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Por: Lucas Banzoli.
A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE É BÍBLICA?
A TEOLOGIA DA PROSPERIDADE É BÍBLICA?
“O meu povo está sendo destruído por falta de conhecimento”
(Oséias 4:6)
Um grande engano que existe dentro de algumas igrejas neopentecostais e que é propagado grandemente por alguns líderes dos dias de hoje diz respeito à ilusão da “teologia da prosperidade”, respaldada por alguns versos isolados e sem exegese, unida a uma grande dose de ganância e ânsia de poder e riquezas, na maioria das vezes formando cristãos materialistas, que ao invés de quererem abrir mão da sua vida por amor a Cristo (Lc.9:24), preferem lutar por fama, status, sucesso, dinheiro, riquezas, poder.
É basicamente a mesma tática que Satanás usou no deserto na tentação de Jesus Cristo. Ele lhe ofereceu o suprimento material (Mt.4:3), mas Jesus revidou com o suprimento espiritual, a palavra de Deus (Mt.4:4). Satanás lhe ofereceu poder, glória e autoridade, dizendo-lhe:
“O demônio transportou-o uma vez mais, a um monte muito alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-lhe: ‘Dar-te-ei tudo isto se, prostrando-te diante de mim, me adorares’” (Mt.4:8,9)
Basicamente é exatamente isso o que o diabo continua oferecendo aos cristãos nas tentações dos dias de hoje. Os tempos passam, mas as tentações são as mesmas de sempre. Ele oferece aos cristãos “os reinos do mundo e a sua glória”, constantemente deturpando as passagens das Escrituras, pegadas de forma isolada, como ele tentou fazer com Cristo (Mt.4:6).
Mas que o diabo deturpa as Escrituras para tentar o cristão com a heresia da teologia da prosperidade, isso todo mundo já sabe. O que infelizmente me aborrece e que me levou a escrever este texto é que, diferentemente da reação de Jesus, hoje em dia existem muitos cristãos que engolem facinho essa conversa. Alguns o fazem por pura ganância, mas outros são simplesmente iludidos. Não escrevo para os primeiros (os gananciosos), mas sim para o segundo grupo (o de cristãos sinceros que infelizmente são enganados, mas que precisam saber a verdade bíblica).
Como hoje tudo se move a dinheiro, é normal vermos pregadores recortarem certas passagens bíblicas com o intuito de prometer aos seus fieis uma vida cheia de prosperidade financeira, um maravilhoso carro de última geração, um campo ou uma fazenda em algum lugar, um serviço super interessante e, talvez, uma ou duas mansões em Los Angeles ou no Havaí. É triste vermos que, enquanto Jesus repudiou tais deturpações e oferecimentos vindos do maligno, hoje em dia cristãos sinceros são enganados por “não conhecerem as Escrituras” (Mt.22:29), que podem ser devidamente utilizadas para refutar inteiramente tais crenças.
Desta forma, estarei mostrando neste estudo a realidade dos fatos bíblicos, e ao contrário do que alguns fazem, não tenho a pretensão de iludir ninguém, mas apenas de mostrar a verdade, por mais dura e pesada que seja para alguns que querem e gostam de enriquecer cada vez mais e ainda por cima divulgar e propagar essa heresia que mais corroe o seio evangélico. Como disse C.S.Lewis, “se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo”.
“Outros ainda recebem a semente entre os espinhos; ouvem a palavra, mas as preocupações mundanas, a ilusão das riquezas, as múltiplas cobiças sufocam-na e a tornam infrutífera” (Marcos 4:18,19)
Em Marcos 4, Jesus conta a famosa parábola do semeador. Ele revela nela quatro tipos específicos de pessoas, sendo que apenas uma única delas é um cristão verdadeiro, que persevera até o fim. O primeiro tipo de pessoas diz respeito àquelas que logo ao ouvirem a palavra, “Satanás tira a palavra que foi semeada nos seus corações” (Mc.4:15). O segundo grupo de pessoas são aqueles que, “sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam” (Mc.4:17). Mas é o terceiro grupo de pessoas que mais me chama a atenção.
Embora existam os quatro grupos visivelmente, o terceiro é aquele que mais ocorre na igreja cristã, o mais facilmente ludibriado: o daqueles que tem preocupações mundanas (com dinheiro e poder), e tem “ilusão de riquezas” (v.19). Note que Cristo chama àquilo que os pregadores da prosperidade pregam de “ilusão”! Ilusão porque elas iludem os pobres fieis pensando que eles vão ser ricos por estarem em Cristo, quando na verdade, TODOS os apóstolos e o próprio Cristo foram pobres. Ou seja, eles querem que os seus fieis sejam exatamente aquilo que nem Jesus, nem Paulo, Pedro ou qualquer outro apóstolo foi: RICO!
Vamos passar uma lista rápida para vermos como os apóstolos criam tanto na teologia da prosperidade, mas tanto mesmo, que eram pobres:
-Pedro:
“Disse-lhe Pedro: Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o nazareno, anda” (Atos 3:6)
Quando Pedro foi curar o paralítico, é comum vermos em algumas igrejas apenas a ênfase na cura em si (“ele foi curado… ‘Uau’… ‘aleluia’…!”), quando na verdade propositalmente omitem aquilo que Pedro disse de igual importância: que ele não tinha prata e nem ouro! É óbvio que Pedro não era um mentiroso. Ele não estava tentando ludibriar o mendigo fazendo-se passar por pobre – ele realmente era pobre! Se nos aprofundarmos nas Escrituras, veremos que Pedro não era o único.
-Jesus:
“Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lucas 9:58)
Note que, enquanto muitos pastores “super-poderosos” dos dias de hoje tem mansões (isso mesmo, no plural!), jatos, carros importados, etc… Jesus não tinha nem sequer onde reclinar a cabeça!!! É muita hipocrisia alguns se dizerem “seguidores de Cristo”, achando que Jesus é o nosso exemplo maior quando, na verdade, eles pregam e vivem exatamente o oposto de Cristo: as riquezas! O apóstolo Paulo é claro ao afirmar que Cristo “se fez pobre por nós” (2Co.9:9). Sendo assim, se engana quem pensa que Jesus era “rico”, e ainda mais quem pensa estar seguindo o exemplo de Jesus quando pregam e vivem exatamente o inverso da vida do próprio Cristo.
Enquanto Cristo não tinha nem sequer onde reclinar a cabeça, esses falsos profetas dormem em camas super confortáveis, em verdadeiras mansões paradisíacas. Jesus parece que lhes deixou o exemplo a não ser seguido: a simplicidade. Em busca das riquezas, eles caíram no maior dos pecados – o amor ao dinheiro, que é “a raiz de todos os males” (1Tm.6:10).
-Paulo:
O caso do apóstolo Paulo é ainda mais interessante. Ele não apenas diz que ele era “pobre”, mas mostra também muitos outros inúmeros aspectos de sua vida. Uma pequena lista que ele escreve aos coríntios talvez seja o suficiente para nos mostrar o quanto que Paulo sofria, era perseguido, e tinha necessidade de tudo – isso mesmo, de tudo aquilo que os pastores atuais da prosperidade têm em fartura!
2 Coríntios 11
23 São eles servos de Cristo? — estou fora de mim para falar desta forma — eu ainda mais: trabalhei muito mais, fui encarcerado mais vezes, fui açoitado mais severamente e exposto à morte repetidas vezes.
24 Cinco vezes recebi dos judeus trinta e nove açoites.
25 Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar.
26 Estive continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios, perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios; perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos irmãos.
27 Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez.
28 Além disso, enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação com todas as igrejas.
29 Quem está fraco, que eu não me sinta fraco? Quem não se escandaliza, que eu não me queime por dentro?
30 Se devo me orgulhar, que seja nas coisas que mostram a minha fraqueza.
Quanta diferença para a teologia da prosperidade! Enquanto esta prega que “vamos ficar ricos”, que “Deus quer que nós prosperemos” (leia-se: “$$$$$”), e outras bobagens do tipo, o apóstolo é muito categórico em dizer que nem tinha lugar certo para dormir, que passava fome e sede (assim como outras pessoas pobres passam), e que por isso tinha que suportar frio e nudez!
Não estou dizendo que todo cristão tenha que não ter onde dormir e passar fome, mas sim que dizer que todos tem que prosperar é no mínimo pregar uma heresia bem barata, visto que nem Paulo, nem Pedro e nem Jesus eram ricos (ao contrário, eram pobres!), e que se a teologia da prosperidade não é uma “ilusão” como Jesus diz (Mc.4:19), mas funciona mesmo, então estes deveriam ser os primeiros a desfrutarem desta tão sonhada e desejada “prosperidade financeira”, visto que eles eram os melhores cristãos que já pisaram nesta terra!
É impressionante como hoje se ouve nos púlpitos para seguirmos os exemplos de Jesus, Pedro e Paulo e pregarmos o evangelho assim como eles, mas quando a questão chega no dinheiro, aí a coisa muda: “não seja como Jesus e os apóstolos… seja rico”! Isso chega a beirar o ridículo quando lemos a Bíblia, mas impressionantemente consegue enganar alguns. Como se isso não fosse suficientemente claro, temos o próprio Paulo falando em nome de todo o grupo dos apóstolos acerca da pobreza deles:
-Todo o grupo apostólico:
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15:19)
Paulo coloca o verso no plural porque ele está falando em nome de todos os apóstolos e servos de Deus (1Co.15:10-12). Para ele, se é somente para esta vida que esperamos em Cristo, somos os mais dignos de lástima. Nós seríamos os “mais miseráveis de todos os homens” (v.19). A não ser que o apóstolo seja um mentiroso, devemos entender que eles não viviam no luxo, mas na miséria.
Se os apóstolos fossem ricos ou defensores do “evangelho da prosperidade”, então eles não seriam os mais miseráveis de todos os homens, pois haveriam muitos em situação muito pior do que eles! O que a doutrina da prosperidade prega é exatamente o contrário daquilo que o apóstolo Paulo afirma acerca de todos os apóstolos. Ela ensina que temos que ser ricos e que Deus quer nos dar muito dinheiro já nesta presente vida, nos enriquecendo cada vez mais, e que depois partiremos para o Céu e teremos ainda mais. Em outras palavras, nós somos ricos nesta vida e na próxima!
Essa ilusão é completamente rejeitada e desfeita em um único versículo bíblico, pois a realidade bíblica não é de ser rico nesta vida e na próxima, mas sim de ser o mais miserável de todos os homens nesta vida, e ganhar a vida eterna na ressurreição vindoura. Eu poderia terminar esse artigo por aqui que já seria um tiro mortal em toda a teologia da prosperidade, que omite inteiramente dos seus fieis inúmeros versículos da Bíblia, preocupando-se apenas em pregar dinheiro, ao invés de incentivar o povo a ler as Escrituras.
Ela não nos mostra uma vida repleta de prazeres, prosperidade financeira e bens materiais para esta vida. Ao contrário, ela nos garante uma vida de lutas, tribulações e sofrimentos (At.14:22), para sermos aperfeiçoados por meio da dor (Rm.5:2-5), sendo os mais miseráveis de todos os homens (1Co.15:19), os mais dignos de lástima nesta vida (1Co.15:19).
É, portanto, somente na vida futura que seremos galardoados por Deus (1Co.15:18,19; 15:32, Lc.14:14). Jesus disse que a recompensa do nosso trabalho viria na ressurreição dos mortos, e não antes disso: “Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos” (Lc.14:14).
Nunca houve e nem jamais haverá qualquer ensinamento tão perverso e antibíblico quanto esse evangelho da prosperidade, que anula a obra de Cristo e neutraliza todos os sofrimentos e misérias que a Bíblia garante que o verdadeiro cristão terá que enfrentar. Ela substitui o realismo bíblico por uma ilusão gananciosa que é em muito atraente aos nossos olhos. É por isso que existe tanta gente iludida com essa mentira: pois preferem a ilusão das riquezas do que a dura realidade da Palavra de Deus.
Paulo também afirma:
1 Coríntios 4
11 Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa,
12 E nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos. Somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e sofremos;
13 Somos blasfemados, e rogamos; até ao presente temos chegado a ser como o lixo deste mundo, e como a escória de todos.
Novamente Paulo está falando em nome de todo o grupo apostólico, conforme ele afirma no verso 9:
“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens” (1 Coríntios 4:9)
Os apóstolos eram “os últimos”, e não os primeiros. Por quê? Simplesmente porque eles eram os primeiros dentre os cristãos, então eram aquilo que poderia ser chamado de “lixo do mundo, escória de todos” (1Co.4:13). Graças a Deus que Jesus prometeu que “os últimos serão os primeiros” (Mt.20:16). Preste bem atenção no termo no futuro – “serão”! A promessa é que na vida futura sejamos “os primeiros”, e não nesta presente vida, como alguns pregam!
Ser o primeiro significa ter o poder, riqueza, autoridade. Ser o último, em contraste, significa ser aquilo que Paulo fala com respeito aos apóstolos: estar passando fome, sede, não ter roupas, não ter pousada certa, ser perseguido, sofrer por amor a Cristo, ser o lixo do mundo e a escória de todos! É uma pena que os pregadores da prosperidade omitam todas essas coisas, pois eles querem ser os primeiros, e não os últimos.
Eles querem ter fama, dinheiro, riquezas, poder. Eles querem “crescer na vida”, entendendo que essa expressão significa riquezas materiais. Eles têm a mente focada naquilo que é material, quando “os últimos” são aqueles que abrem mão da sua própria vida material para ter uma visão eterna, pois a nossa riqueza está guardada para o futuro, quando nos encontraremos com Nosso Senhor:
“Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a vida por minha causa, este a salvará” (Lucas 9:24)
Alguns não têm o real significado do que seria “perder a sua vida”. Para eles, Cristo ter dito isso ou nada dá no mesmo. Porém, “perder essa vida” significa abrir mão dela, sacrificá-la por um Bem Supremo, e este bem supremo é Deus. Por amor a Jesus, temos que perder a nossa própria vida. Isso é exatamente o contrário do materialismo pregado na teologia da prosperidade, onde querem viver a vida a vontade, com dinheiro, poder e riquezas. Eles ganham essa vida e querem ganhar também a próxima! Não é a toa que o apóstolo Tiago fez questão de dizer:
“Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão. Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça. Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias!” (Tiago 5:1-3)
Tiago absolutamente repudia a atitude de “entesourar nos últimos dias”, e se entende que nós estamos vivenciando hoje estes “últimos dias”, não devemos fazer o mesmo, a não ser que tenhamos o desejo de sermos participantes das “desgraças que sobre vós virão” (Tg.5:1).
E por mim eu posso ter certeza que não! (embora dos pregadores da prosperidade eu não possa dizer o mesmo). Essa ânsia em querer ganhar dinheiro com o evangelho é o que mais distancia o verdadeiro cristão da verdade evangélica e que o deixa com a mente focada no material, quando na realidade a nossa esperança não está neste presente mundo, mas naquele que há de vir:
“Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas. A nossa cidadania, porém, está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Pelo poder que o capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio, ele transformará os nossos corpos humilhados, para serem semelhantes ao seu corpo glorioso” (Filipenses 3:18-21)
A nossa esperança não está nesta vida – está na póstuma. Não devemos ficar “pensando só nas coisas terrenas”, como o fazem aqueles “cujo Deus é o ventre” (Fp.3:19), pois pregam o evangelho somente para se satisfazer consigo mesmo em seus deleites. Paulo alude à nossa real esperança – a cidadania celestial -, porque a nossa expectativa não é nas “coisas terrenas” (v.19), mas sim nas coisas celestiais.
A nossa humilhação só vai ser transformada em algo glorioso quando o Senhor Jesus colocar todas as coisas sob o seu domínio, e isso acontece após a ressurreição dos mortos (1Co.15:22,23; 1Co.15:51-54), sendo que o próprio Paulo escreve dizendo que isso ocorre na “transformação de nossos corpos humilhados”, isto é, na ressurreição da carne.
O que muitos fazem hoje é inverter este quadro. Eles querem viver luxuosamente e em glória já nesta presente vida. O fim que eles terão será a humilhação. Os que querem, porém, viver humildemente e modestamente esta vida, terão o seu “corpo de humilhação” transformado em glória quando o Senhor Jesus voltar.
Os pregadores da prosperidade em nosso meio querem ensinar basicamente aquilo que o ex-presidente Lula disse publicamente: que aquilo que Cristo disse sobre o Reino dos Céus e os pobres é “bobagem”, e que temos que receber a nossa herança agora mesmo:
“Bobagem, essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus. Nós queremos o reino agora, aqui na Terra. Para nós inventaram um slogan que tudo tá no futuro (…). Queremos que todo mundo vá pro céu, agora. Queremos ir pro céu vivo. Não venha pedir para a gente morrer para ir pro céu que a gente quer ficar aqui mesmo” (Lula em discurso em Salvador/BA, em 21/07/2011 – confira aqui)
E é exatamente isso o que os pregadores da prosperidade estão pregando hoje. Eles só não dizem abertamente que Jesus falava “bobagem”, mas ensinam exatamente a mesma coisa. O que o Lula fez foi simplesmente admitir o óbvio: que tal ensinamento é tão contra aquilo que Jesus disse, que o que Cristo disse pode ser considerado “bobagem”! Eles querem o Reino dos Céus agora, querem as riquezas agora, não querem esperar o futuro.
A Bíblia, contudo, nos mostra que serão os pobres que herdarão o Reino dos Céus, e que a nossa verdadeira esperança está reservada para nós nos céus, sendo que iremos possuí-la no momento de nossa entrada no Reino, na ressurreição dos mortos para a vida eterna (Fp.3:18-21; 1Pe.1:14).
Qualquer ensinamento que seja diferente disso e que coloque a esperança de riquezas para esta presente vida, seja vindo de um pastor ou de um presidente, deve ser rejeitado, pois temos a clareza de alguém muito maior, um “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap.19:16), alguém que é digno de muito mais confiança do que qualquer presidente aposentado ou pregador da prosperidade.
Finalmente, é importante também mencionarmos a extrema pobreza das próprias comunidades cristãs (piedosas a Deus), para acabarmos de uma vez por todas com essa heresia de que o Corpo de Cristo tem que ser “rico”:
-A pobreza das igrejas cristãs:
“Desejamos dar-vos a conhecer, irmãos, a graça que Deus concedeu às igrejas da Macedônia. Em meio a tantas tribulações com que foram provadas, espalharam generosamente e com transbordante alegria, apesar de sua extrema pobreza, os tesouros de sua liberalidade” (2 Coríntios 8:1,2)
Paulo é enfático aqui: as igrejas da Macedônia viviam em “extrema pobreza” (v.2)! Dispensa maiores comentários. Mas alguém ainda poderia tomar a palavra e dizer: “Mas Lucas, isso era uma exclusividade daqueles hereges não-prósperos da Macedônia. Vai ver que lá em Jerusalém era diferente…”! Era diferente? Vejamos:
“A Macedônia e a Acaia houveram por bem fazer uma coleta para os irmãos de Jerusalém que se acham em pobreza” (Romanos 15:26)
Note que a igreja de Jerusalém também se achava em pobreza! A situação na verdade era tão decadente, que os próprios macedônios, que viviam em “extrema pobreza” (2Co.8:2), tinham que fazer doações aos crentes de Jerusalém, porque estes eram ainda mais pobres! Bom, se isso tudo significa “teologia da prosperidade”, então esqueça a exegese e o bom senso e vamos tomar como regra de fé apenas a mais pura ganância e ignorância bíblica!
A única comunidade cristã registrada na Bíblia que tinha certa fartura e riqueza é a igreja de Laodiceia que, curiosamente, é também duramente repreendida e corrigida por Deus por causa disso:
Apocalipse 3
14 Ao anjo da igreja em Laodicéia escreva: Estas são as palavras do Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da criação de Deus.
15 Conheço as suas obras, sei que você não é frio nem quente. Melhor seria que você fosse frio ou quente!
16 Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.
17 Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu.
18 Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.
Deus fez com que propositalmente a maior crítica severa a uma igreja cristã fosse exatamente dirigida àquela que era a mais rica! Se Deus fosse da linha da prosperidade financeira através do evangelho, claramente iria fazer com que o inverso fosse verdadeiro: que as igrejas mais ricas fossem as mais elogiadas por sua “demonstração de fé” e que as mais pobres fossem desprezadas por não fazerem uso de fé e viverem na miséria por causa disso!
Embora alguns hereges digam coisas do tipo, tais exemplos jamais ocorrem na Bíblia Sagrada, sendo que as comunidades cristãs mais carentes eram precisamente as mais elogiadas e as mais ricas e “prósperas” (se levar em consideração que prosperidade é igual a “riquezas”) eram exatamente aquelas que Deus diz que iria vomitar de sua boca, que deveria cobrir a sua vergonhosa nudez e que deveria comprar colírio para ungir seus olhos!
Além disso, embora a igreja de Laodicéia fosse bem rica, Deus afirma: “Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico” (v.18). Note o termo no futuro – “se tornará rico”. Ora, mas os laodicenses não eram ricos? Sim, eram materialmente. Porém, as “riquezas” no olhar de Deus não tem absolutamente nada a ver com riquezas terrenas, mas sim com espirituais. Você ser rico para Deus não significa possuir mansões, carros importados ou paraísos fiscais, mas sim viver uma vida de santidade com boas obras.
Fora disso, qualquer outro tipo de “prosperidade” (financeira) não passa de mera ilusão. Todos os fatos apontam claramente que a teologia da prosperidade financeira é, como Jesus diz, uma “ilusão” (Mc.4:19), que torna os cristãos “infrutíferos” (Mc.4:19), pois são ILUDIDOS com esta mentira e acabam acreditando mesmo que serão “abençoados” (entende-se “ricos”). E, quando batem de cara com a verdade do evangelho e veem que não se tornaram ricos coisa nenhuma, ficam desesperados e muitas vezes fogem para qualquer seita, macumba ou seja lá o que for para poderem recuperar o tempo perdido. Foi por isso que Jesus disse para o jovem rico se DESFAZER de suas riquezas:
Mateus 19
21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.
22 E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades.
23 Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.
24 E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.
Embora em NENHUM momento nós vemos Jesus pregando a tal da “teologia da prosperidade” ($$$), nós vemos ele dizendo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo da agulha do que um rico no reino de Deus (Mt.19:24), que é difícil entrar um rico no reino dos céus (Mt.19:23), e para vender tudo e dar aos pobres, porque é somente desta maneira (se desfazendo das riquezas terrenas) que podemos herdar o “tesouro no céu” (Mt.19:21).
Convenhamos: se as riquezas fossem algo que Deus quer dar cada vez mais ao povo de Deus, então porque Jesus não fez aquele jovem ainda mais rico (como os pseudo-“teológos” da prosperidade ensinam), mas ao contrário, quis desfazer dele todas as suas riquezas? Essas perguntam atormentam a mente de tais pessoas que, sem poderem abrir a Bíblia para defenderem suas crenças gananciosas, não conseguem entender que a verdadeira riqueza não é a material, mas sim a espiritual:
“Ouvi, meus caríssimos irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres deste mundo para que fossem ricos na fé e herdeiros do Reino prometido por Deus aos que o amam?” (Tiago 2:5)
Os pregadores da prosperidade escolhem os ricos; já Deus, por outro lado, escolheu os pobres deste mundo, para que estes fossem ricos, não em dinheiro, mas em fé. Porque a verdadeira riqueza não consiste na quantidade de bens deste mundo, mas sim na fé que a pessoa tem em Cristo:
“Então lhes disse: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 11:5)
Se Deus quisesse que todos fossem ricos, ou se o evangelho oferecesse uma prosperidade financeira aos fieis em Cristo, então os crentes seriam os ricos, e não os pobres. Consequentemente, Deus teria escolhido pessoas “ricas em dinheiro”, e não os “pobres deste mundo”! São os pobres deste mundo – e não os ricos – que são os “ricos na fé” e “herdeiros do Reino” prometidos por Deus (Tg.2:5)!
E não foi apenas para aquele jovem rico que Jesus disse tal coisa. Ele genericamente disse também:
“Vendei o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam, um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o destrói. Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lucas 12:33,34)
Portanto, a lição de Cristo para aquele jovem não é uma opinião diferente em relação àquilo que ele tem a nos dizer para a “multidão”. Ele diz para vendermos o que possuirmos e darmos esmolas, pois “onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc.14:34).
Isso significa que se você está querendo enriquecer ou se está cheio das riquezas, então o seu coração ali está. Mas se você se desfaz das riquezas e dá o dinheiro aos pobres (como Cristo disse), então o seu coração estará inteiramente focado no Pai. Não há dificuldades em entender um ensinamento tão simples como esse, a não ser para quem gosta de complicar o evangelho simples e puro revelado a nós nas Escrituras. Foi por isso que Jesus disse:
Lucas 16
13 Nenhum servo pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará ao outro, ou se dedicará a um e desprezará ao outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro.
14 Os fariseus, que amavam o dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus.
15 Ele lhes disse: Vocês são os que se justificam a si mesmos aos olhos dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. Aquilo que tem muito valor entre os homens é detestável aos olhos de Deus.
Aquilo que tem muito valor entre os homens (DINHEIRO), é detestável aos olhos de Deus! Note pelo contexto que Jesus estava falando claramente com respeito ao dinheiro (vs. 13 e 14), sobre a insistência tola de alguns em servir “a Deus e ao Dinheiro” (v.13), e depois corrigindo os fariseus que “amavam o dinheiro” (v.14). Se o dinheiro é detestável aos olhos de Deus (pois tem muito valor entre os homens), então como é que ele iria querer que cada crente enriquecesse cada vez mais???
A não ser que Deus fosse um ser bipolar, que uma hora diz uma coisa e em outro momento diz outra, que uma hora diz que o dinheiro é detestável aos seus olhos e em outra hora prega uma “teologia da prosperidade” em que quer ver cada crente ganhar cada vez mais uma espécie detestável aos seus olhos!!! Como crer em algo assim? É evidente que Deus é “o mesmo ontem, hoje e eternamente” (Hb.13:8), ele é Aquele que “não muda como sombras inconstantes” (Tg.1:17).
Desta forma, o que ele disse é a mais pura verdade. Mas se alguém ainda quiser ter cada vez mais e mais aquilo que é detestável aos olhos de Deus, aí é questão particular de cada um. Eu só peço sinceramente que não deturpe o evangelho, dizendo que o próprio Jesus era rico ou que a verdadeira riqueza consiste na ostentação de bens, algo que é simplesmente absurdo à luz do evangelho puro e sincero. Afinal, “onde está o teu tesouro, ali também estará o teu coração” (Mt.6:21). O seu tesouro está na sua conta do banco? Então tema, antes que seja tarde demais.
Finalmente, termino essa parte com as palavras de Jesus aos pobres:
“Olhando para os seus discípulos, ele disse: Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o Reino de Deus. Bem-aventurados vocês, que agora têm fome, pois serão satisfeitos. Bem-aventurados vocês, que agora choram, pois haverão de rir” (Lucas 6:20,21)
Ao invés de Jesus dizer que bem-aventurados seriam os ricos da “teologia da prosperidade” (pois todo cristão que tem fé tem que enriquecer), ele diz que bem-aventurados seriam exatamente os pobres, que de acordo com a teologia da prosperidade seriam exatamente aqueles que não fazem uso de sua fé e que por isso estão na miséria! Além disso, Jesus chama de bem-aventurados aqueles que agora passam fome, e não esses que enriqueceram com base nessa falsa doutrina herética e altamente ofensiva à fé cristã, que é a teologia da prosperidade.
E também termino com as palavras de Jesus aos ricos, que, é claro, não poderiam ficar faltando:
“Mas ai de vocês, os ricos, pois já receberam sua consolação. Ai de vocês, que agora têm fartura, porque passarão fome. Ai de vocês, que agora riem, pois haverão de se lamentar e chorar” (Lucas 6:24,25)
Ao contrário do que Jesus disse aos pobres, quando a mensagem chega na parte dos ricos a conversa muda completamente. Ele passa a dizer que estes deveriam temer, lamentar e chorar, pois já receberam a sua consolação (sinal de que não receberão nenhuma consolação futura!). Também diz que eles passarão fome futuramente (v.25).
Tudo isso nos mostra que, nos ensinamentos de Jesus, além de absolutamente nada apontar para a herética tese da prosperidade popular, que nasceu em pleno século XX depois de Cristo(!), o que ele realmente enfatiza é a bem-aventurança daqueles que são pobres nessa terra, jamais querendo dizer que estes estão nessa posição por falta de fé, ou que deveriam ser ricos através de uma teologia de prosperidade financeira.
Ele não os encoraja a entrarem numa igreja neopentecostal e aderirem a uma das várias campanhas de prosperidade, para que ainda nesta vida possam deixar a pobreza e serem ricos. Muito pelo contrário. Ele coloca a vida futura (vida eterna) como sendo a bem-aventurança deles. Ao contrário da teologia da prosperidade, que quer enriquecer as pessoas nesta terra, Cristo quer nos apontar sempre ao caminho da eternidade, abrindo mão dos bens e prazeres desta vida para ganharem uma posse muito maior, uma “herança incorruptível, incontaminável e imarcescível, reservada para vós nos céus” (1Pe.1:4). Nos céus, e não na Terra!
Se os crentes tem que enriquecer por meio do evangelho, então o quadro seria precisamente o inverso. Os pobres seriam aqueles que não fazem uso da fé e do chamado “pensamento positivo”, e os ricos seriam aqueles que seguiram corretamente o evangelho, sendo elogiados por Cristo em função disso.
É óbvio que tal quadro está longe de ser realidade, pelo simples fato de que Jesus repudiava absolutamente essa heresia que mais devasta e assola o meio evangélico nos nossos dias. Alguns pastores dos dias de hoje estão querendo tirar o povo a qualquer custo do primeiro grupo (dos pobres) para o segundo grupo (dos ricos). Eles só esquecem de avisar que junto a isso eles transferem consigo também a bem-aventurança de Cristo aos pobres, para fazer parte das ameaças ditas aos ricos.
ANALISANDO AS PASSAGENS UTILIZADAS PELOS PREGADORES DA PROSPERIDADE
Mas como toda heresia tem os seus versículos bíblicos isolados e tirados fora do seu contexto, com a teologia da prosperidade não pode ser diferente. Afinal, se não houvesse uma meia dúzia de versos isolados, ninguém iria dar tanta bola assim para essa doutrina. Assim, nos cultos se repete, repete e repete cada vez mais os mesmos versículos bíblicos, até que a mente do povo fique corrompida e eles possam realmente acreditar numa heresia tão patentemente antibíblica, ainda mais para quem seriamente lê as páginas do Novo Testamento de maneira sincera e verdadeira.
Novamente repito: não estou dizendo que todo mundo que crê na teologia da prosperidade não é honesto ou verdadeiro. O que eu estou dizendo é que existem certos pregadores que não são tão honestos assim (pois deveriam ter o conhecimento das Escrituras e pregar as coisas certas ao povo, antes que tentar iludi-los com o “engano das riquezas” – Mc.4:19), e estes pregadores acabam muitas vezes enganado também muitas pessoas de bem, algumas que realmente buscam a Deus sinceramente e o adoram em Espírito e em Verdade, como Jesus disse (Jo.4:24).
Mas apenas o fato de tais pessoas adorarem a Deus verdadeiramente não significa que elas não possam ser ludibriadas em algum ponto. O diabo atira os seus “dardos inflamados” (Ef.6:16) para todos os lados, tentando acertar alguém, até mesmo os cristãos mais verdadeiros e piedosos que existem. É por amor a estas pessoas que, depois de um bom tempo sem comentar o assunto, eu escrevo este texto para acabar de uma vez com tal ensino que engana cristãos verdadeiros.
E se tais pessoas são realmente cristãos verdadeiros, então irão admitir que estavam enganadas e vão querer ser libertas, a não ser que queiram deliberadamente continuarem no engano mesmo depois de descobrirem a verdade bíblica com respeito a este tema. Neste caso, se deliberadamente continuarem querendo ser enganadas, ou quiserem continuar crendo em algo que já sabe que é antibíblico, aí não sobrará mais nada a tais pessoas senão isso aqui:
“Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que há de devorar os rebeldes” (Hebreus 10:26-27)
Porém antes que chegue a tal ponto, creio que seja necessário apresentar devidas refutações a algumas passagens historicamente utilizadas (e mal utilizadas, por sinal) por aqueles que pregam tal doutrina. A principal delas certamente é quando Paulo escreve aos coríntios, dizendo:
“Pois vocês conhecem a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocês, para que por meio de sua pobreza vocês se tornassem ricos” (2 Coríntios 8:9)
Interpretam, então, primeiramente duas coisas que não existem no texto, mas que são fundamentais para a teologia da prosperidade funcionar:
1. Que essa riqueza é material e consiste em bens materiais.
2. Que essa riqueza não é uma posse futura celestial, mas que os coríntios já detinham.
Evidentemente, nem um ponto e nem o outro conseguem se sustentar através de uma exegese simples e básica. Em primeiro lugar, porque Paulo estava traçando um contraste entre Jesus e nós. Ele intercambiavelmente faz comparações entre o mundo espiritual e material, o que é pouco discernido por muitos. Vamos passo a passo ver o que Paulo estava dizendo neste verso, parafraseando-o:
1. “…Cristo, sendo rico” – riqueza espiritual, celestial.
2. “…se fez pobre” – pobreza material, terrena.
3. Para que nós, “por meio de sua pobreza…” – pobreza material, terrena.
4. Tornemos-nos “ricos” – riqueza espiritual, celestial.
O apóstolo Paulo estava simplesmente traçando uma analogia onde ele mostra que Cristo “trocou de lugar conosco”. Ele era “rico” (no Céu), mas se fez “pobre” (na Terra). Então, os cristãos (que são pobres) podem tornar-se ricos (no Céu). Se essa riqueza fosse algo terreno e material, então além de toda a analogia de Paulo entre nós e Cristo ir para o espaço, também deveríamos pensar que a “riqueza” de que ele está falando era algo material e terreno.
Porém, vemos que essa “riqueza” que ele fala acerca de Cristo, e que nós iremos possuir também, diz respeito a uma riqueza celestial (que Cristo possui). Portanto, seguindo esta mesma lógica, a riqueza que nós possuiremos é a mesma de Cristo (a espiritual, e não terrena). Ele está dizendo que nós seremos ricos como Cristo. Mas em que sentido que Cristo era rico? Na terra? Não, no Céu!
Portanto, o que Paulo está apontando neste verso específico não é nada contraditório àquilo que ele SEMPRE afirmava em suas epístolas, que nós somos “pobres” (1Co.4:11-13), mas herdaremos uma recompensa incorruptível e gloriosa no futuro, quando Jesus voltar (Fp.3:20,21). Quando isso acontecer, o quadro que Paulo descreve em 2Cor.8:9 se completa: Cristo volta e nós subimos, para sermos ricos como ele.
É neste sentido que Paulo aplica as “riquezas” que ele infere. Seria muito estranho que essas “riquezas” dissessem respeito a algo físico e terreno, pois além da analogia ser mal feita, deveríamos pensar também que os próprios coríntios (a quem Paulo destina a carta) eram ricos! Ora, não é preciso ser nenhum “historiador” para saber que isso é uma completa inverdade. Já vimos anteriormente que as comunidades cristãs eram essencialmente pobres.
Além disso, Corinto ficava na província da Ásia, sendo que era o Império Romano quem subjulgava a quase todos e mantinha o domínio territorial e autoritativo à altura do Séc.I. Os coríntios nem eram ricos, nem tampouco faziam parte de Roma! Eles simplesmente eram pobres, assim como a grande maioria das demais comunidades cristãs da época, espalhadas em toda a Ásia e Judéia.
Portanto, Paulo não poderia estar falando que os coríntios eram ricos ou que o objetivo de Cristo em se fazer pobre foi em nos tornar ricos para esta vida e em termos materiais, pois os próprios coríntios não eram ricos! É óbvio que Paulo estava falando de riquezas celestiais, assim como o próprio Senhor Jesus afirmou:
“Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam” (Mateus 6:19)
Ora, se Cristo veio para nos tornar ricos em matéria de dinheiro para esta vida, então por que ele foi afirmar exatamente para “não ajuntarmos tesouros [riquezas] na terra”? A resposta é óbvia: Porque a nossa riqueza não está na terra, mas no Céu, a nossa pátria! Portanto, o que Paulo diz em 2Cor.8:9 é essencialmente o mesmo daquilo que Jesus afirma em Mateus 6:19 – que não devemos ajuntar riquezas terrenas, mas sim entesourar (por meio da fé) “tesouros” (espirituais) para a vida futura (a vida eterna), onde seremos “ricos”.
Nada, em absolutamente lugar nenhum, faz pensar que Jesus ou Paulo queria que nós ajuntássemos riquezas na terra ou que Cristo deu a sua vida por nós para que tivéssemos dinheiro nesta vida! Esta interpretação é uma blasfêmia contra a obra de Cristo na cruz, que em nada tem a ver com o dinheiro terreno, que o próprio Jesus afirma para se desfazer e dar aos pobres (Lc.12:33,34)!
Mas o pior é que não para por aqui (ainda tem mais vindo, prepare-se!). Outra passagem utilizada por eles está na primeira carta de Paulo ao jovem Timóteo, em que ele diz:
“Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação” (1 Timóteo 6:17)
Por essa frase “…que de tudo nos provê ricamente”, eles novamente interpretam que Paulo estava falando de riquezas temporais. É uma pena, pois se lessem o versículo seguinte, veriam exatamente de que riqueza de Paulo estava falando:
“Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos para repartir” (1 Timóteo 6:18)
Ou seja, ricos em… boas obras! A riqueza verdadeira não é em bens terrenos, mas em boas obras. Ademais, o fato de Deus nos prover não tem nada a ver com ele nos tornar ricos. Alguém pode ser suprido por Deus, sem necessariamente ser rico. Eu não sou rico, mas tenho o que comer, beber, se vestir, etc. Ou seja, Deus está me provendo.
E, mesmo se eu não tivesse nada disso (como quase todos os apóstolos não tinham), eu não iria blasfemar dizendo que é porque “Deus não está me abençoando” ou porque “eu estou na miséria por não ter fé”, como alguns lobos em pele de cordeiro dizem. Tais pessoas querem ter uma fé maior do que a dos apóstolos e, como a fé deles é baseada nas riquezas terrenas (como não poderia ser diferente), então pensam que se alguém não é rico é porque não tem fé!
Voltando à passagem de 1Timóteo, penso que contextualizar essa passagem também seja eficiente para vermos novamente que, conforme eu expliquei acima, Paulo não está dizendo que nós seremos ricos, mas sim que Deus nos dará o SUFICIENTE para vivermos, exatamente conforme ele disse poucos versos antes:
1 Tmótreo 6
3 Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino que é segundo a piedade,
4 é orgulhoso e nada entende. Esse tal mostra um interesse doentio por controvérsias e contendas acerca de palavras, que resultam em inveja, brigas, difamações, suspeitas malignas
5 e atritos constantes entre pessoas que têm a mente corrompida e que são privados da verdade, os quais pensam que a piedade é fonte de lucro.
6 De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro,
7 pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar;
8 por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.
9 Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição,
10 pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram a si mesmas com muitos sofrimentos.
Paulo aqui parece estar escrevendo exatamente aos pregadores da prosperidade dos dias atuais. Estes querem ficar ricos, e pior: querem que a sua ganância sem limites atinja também o povo simples, para que estes também queiram ficar ricos! Contudo, Paulo exorta dizendo que tais pessoas caem em tentação e armadilhas do maligno (lembre-se do que eu disse no início deste artigo), mergulhando na ruína da destruição. Estes “pensam que a piedade é fonte de lucro” (1Tm.6:5).
De fato, a coisa chegou a tal ponto que eles vendem até “lenço ungido”, “sabonetes consagrados” (sabe-se lá pra quem), “santinho”, “fitinhas”, moedas da sorte, etc, etc, etc… coisas que nenhum apóstolo foi louco de fazer, pois a piedade não é fonte de lucro! Ah, como eu já estava quase me esquecendo: eles quase sempre cobram por tudo isso, é claro!!! Afinal, eles não são nem um pouco bobos. É uma pena que o povo de Deus não se alerte contra tais aberrações.
Há uns tempos atrás eu vi uma “igreja” vendendo “sabonetes consagrados”. A pessoa limpa o corpo com o sabonete e sai todo tipo de demônio. Antes eu ria com essas aberrações, mas hoje a minha vontade é de chorar, chorar por essas pessoas que colocam a fé delas numa porcaria de um sabonete ao invés de colocar a fé delas no Invisível, mas real, o Deus Eterno e Imortal, o “que habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém” (1Tm.6:16).
As pessoas estão cada vez mais precisando de ($$$$$) e de objetos físicos para colocar a sua fé, pois Jesus Cristo não está sendo o suficiente para elas. Não é o meu objetivo ficar aqui apontando erros em igrejas, mas a verdade deve ser dita, deve ser proclamada, não para que haja mais intrigas, mas sim para concertarmos os erros, algo que é profundamente necessário. O próprio apóstolo Paulo repreendeu Pedro face a face em Antioquia, “porque a sua atitude era repreensível” (Gl.2:11).
Se o próprio Pedro teve a sua atitude declarada como repreensível e foi repreendido, o que não dizer ou fazer com fanfarrões líderes que transformaram o evangelho puro de Cristo em dinheiro, e quiseram fazer do magnífico evangelho uma fonte de lucro pessoal? O apóstolo Paulo é muito claro: tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos!
Isso significa que a verdade do evangelho NÃO É DE ACUMULAR RIQUEZAS, também NÃO É DE FICAR CADA VEZ MAIS RICO, nem tampouco de SER RICO ou de TER MAIS QUE O SUFICIENTE. Ao contrário, a verdade do evangelho consiste em ficar satisfeito com aquilo que tem e não querer mais! Mas para os que querem MAIS, Paulo escreve nos versos 9 e 10 o que acontece com eles: “ruína e destruição” (v.9)!
Por fim, creio também ser necessário comentar sobre uma última passagem utilizada por eles, se bem que essa eu acho que nem vale a pena, pois novamente o erro está no “be-a-bá” da argumentação, em inferir ou imaginar que a abundância que Deus nos concede significa riquezas materiais (leia-se “$$$”), quando Cristo de modo nenhum quis dizer isso quando disse isso daqui:
“O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10)
Agora me diga: aonde é que está escrito neste verso que os cristãos têm que ser ricos ou que Deus quer que nós ajuntemos para si tesouros na terra??? A não ser que a expressão “abundância” (leia-se “dinheiro”, para os teólogos da “prosperidade”) seja levada a um sentido extremamente materialista, o que não seria muito de se imaginar vindo de gente que não pensa em outra coisa senão no “Cri$tiani$mo” pregado em alguns lugares, onde a abundância significa dinheiro. É mais que óbvio que Jesus não estava dizendo que nós temos que ser ricos, mas sim que nós vamos viver uma vida de abundância, e como ele próprio disse, essa abundância não consiste de forma alguma em bens materiais:
“Então lhes disse: Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 11:5)
Se não é na “quantidade dos seus bens” (riquezas), então no que é? Deixe-mos que o próprio Cristo nos responda:
“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (João 14:27)
Essa “abundância” de que Cristo fala trata-se da paz interior que aqueles que estão em Cristo sentem por viver uma vida de santidade em amor a Deus. Elas são preenchidas interiormente, não com riquezas ou ostentação de bens, mas sim com uma satisfação interior, uma paz que Cristo nos dá, o Espírito Santo da nossa consolação que é a garantia da nossa redenção até o dia da volta do Nosso Senhor (2Co.5:5). Essa “paz interior” não tem nada a ver com dinheiro, pois dinheiro não traz felicidade! Ele pode trazer uma falsa ilusão de felicidade (a “paz que o mundo dá”), mas que na verdade resulta em mortes e depressão profunda.
É por isso que os países mais desenvolvimentos do mundo (como a Suécia e Noruega) “misteriosamente” também são as mesmas que mais tem casos de suicídio! Por que eles se suicidam tanto? Simplesmente porque eles não têm a verdadeira paz (a paz de Cristo). Eles têm é uma ILUSÃO de paz, a paz que o mundo dá, que consiste nas riquezas terrenas, e que levam o homem à perdição. Note que Cristo faz uma forte antítese entre a paz que ele concede (PAZ INTERIOR) com a paz que o mundo concede (RIQUEZAS).
Se a paz de Cristo também consistisse em riquezas, então ele não faria tal distinção clarissima, dizendo que “a minha paz vos dou, não a dou como o mundo a dá”! O mundo oferece riquezas, bens materiais, “tesouros” como sendo a fonte dessa paz. Cristo, ao contrário, nos oferece uma paz diferente, porém muito mais significativa: Ele nos oferece uma paz interior, a santidade, a redenção pelo Espírito. E é essa a esperança dos cristãos, essa é a “vida em abundância” que Cristo diz!
O mais impressionante é que os pregadores da prosperidade oferecem hoje em dia exatamente o contrário da paz de Cristo: eles nos oferecem exatamente aquela mesma paz que o mundo nos dá, eles nos oferecem riquezas, bens materiais, e tem ainda a ousadia de deturparem as próprias Escrituras para este fim!
São, como Pedro diz, “ignorantes e instáveis que torcem as Escrituras para a sua própria perdição” (2Pe.3:16). Tomara a Deus que o povo de Deus cresça em maturidade espiritual, deixando para trás os seus sofismas a fim de voltar ao simplismo do evangelho, que nunca nos ofereceu riquezas; mas nos promete, ao contrário, tribulações e sofrimentos, pois “é necessário que passemos por muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus” (Atos 14:22). Eles querem tirar as tribulações, substintuindo-as por dinheiro. Eles iludem seus fieis fazendo-os pensar em prosperidade financeira, quando eles deveriam olhar para a Escritura e pensar em tribulações!
Finalmente, se essa “abundância” significa bens materiais e riquezas terrenas, então o próprio Cristo não tinha uma “vida em abundância”, visto que ele era pobre (2Co.9:9; Lc.9:58)! Ora, como é que Cristo iria dar a sua paz a nós, se essa paz consiste em dinheiro e o próprio Jesus não tinha riquezas? Se essa abundância provém de Cristo, então ela não provém de dinheiro, a não ser que Jesus fosse multimilionário.
A partir disso podemos ver como que a teologia da prosperidade acaba se metendo em abismos cada vez maiores. Eles deturpam uma passagem bíblica que implica em dizer que o próprio Cristo não vivia uma vida em abundância, e que nós temos que viver uma vida melhor que a de Cristo! Misericórdia!!! Por essa e por outras, eu prefiro ficar com a Bíblia – e contra a teologia da prosperidade e seus versos isolados, que desviam o foco de Cristo e que acabam resultando nisso:
TEOLOGIA DA PROSPERIDADE: O ATALHO FÁCIL QUE CONDUZ À PERDIÇÃO – O “CAMINHO ESPAÇOSO” (Mt.7,13)
“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lucas 9:23)
Não existe o “morrer para si mesmo” (Lc.9:23) na teologia da prosperidade, mas somente uma vida de riquezas e bens materiais. Paulo, porém, disse:
“Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro” (Romanos 8:36)
“Declaro, irmãos, pelo regozijo que tenho a vosso respeito em Cristo Jesus nosso Senhor, que morro todos os dias” (1 Coríntios 15:31)
O ensino de que Deus quer que sejamos ricos gera, além de cristãos materialistas, uma verdadeira apatia à “morte” descrita no evangelho. Como alguém com um excepcional carro, mansão, dinheiro de sobra e bens materiais superabundantes pode morrer todos os dias? Esse estilo de vida está muito longe de ser a morte que Paulo fala, o “morrer para si mesmo” que Cristo diz! Negar a si mesmo e morrer para a sua própria vida certamente não condiz com a posição de alguém que, enriquecendo cada vez mais, torna-se apegado aos bens materiais.
É somente com a morte que Cristo produz vida. Como Paulo disse, “o que você semeia não nasce a não ser que morra” (1Co.15:36). Se você vive luxuosamente e não morre para esta vida, não pode ganhar a próxima. A vida cristã não é feita de uma porta larga e um caminho amplo, mas sim de uma “porta estreita” (Lc.13:24) e de um “caminho estreito” (Lc.13:24). O evangelho da prosperidade é exatamente o oposto disso: é o caminho amplo, que leva muitos à perdição.
Não adianta apenas entrar pela porta estreita, tem que se seguir o caminho estreito! Uma vida cheia de riquezas e bens materiais, longe de ser a negação de si mesmo, está muito mais para o caminho amplo, em direto contraste com aqueles que negam a si mesmos, tomam a sua própria cruz e seguem o caminho apertado, abrem mão de riquezas e bens materiais, tornam-se os dignos de lástima por amor a Cristo, pois sabem que possuem bens superiores esperando-os na Jerusalém Celestial.
A teologia da prosperidade, querendo ser a “arca de Noé” que oferece algo que é atraente aos olhos de quem está em dívidas e quer se refugiar nela, na verdade acaba sendo o próprio dilúvio. Ela é a porta estreita, ela é o caminho estreito. É por ela que se passa aqueles que procuram o atalho: uma vida em que tomar a sua cruz não é tão necessário assim, pois é mais fácil tomar o seu carro de uma última geração e ter o seu bolso cheio do que levar a própria cruz.
É por essas e outras que a teologia da prosperidade não pode ser aceita por nenhum cristão sério que tenha prazer na verdade, e que queira realmente seguir o caminho estreito, antes que os atalhos que a vida nos oferece. Esses atalhos parecem melhores e menos dolorosos para se chegar a Deus. Eles parecem nos indicar uma vida de riqueza e prosperidade, fazendo-nos pensar que podemos ser muito ricos e mesmo assim entrarmos no Reino dos Céus, como um típico e verdadeiro atalho.
A vida que Cristo nos propõe não é essa. Ele diz que é mais fácil passar um camelo no fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus, para mostrar como que o caminho das riquezas não passa de um atalho que desvia o verdadeiro cristão da verdadeira fé. É somente seguindo o caminho estreito – uma vida de tribulações e sofrimentos, abrindo mão daquilo que lhe é mais do que o suficiente – que podemos adentrar os portões celestiais, sabendo que não tomamos nenhum atalho ou caminho fácil, mas sim aquele prometido por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelos apóstolos de Nosso Senhor: o caminho da adversidade e da negação própria.
CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
A luz de tudo o que foi dito, não cabe aqui estraçalhar mais com essa doutrina e bombardear mais passagens bíblicas – deixemos isso para uma outra oportunidade. O meu objetivo aqui, neste presente artigo, já foi concluído. Antes, porém, deve ser feito um resumo por pontos, não daquilo que foi dito (que já está claro em todo o texto), mas sim daquilo que não foi dito, para evitar deturpações de meu texto, por pessoas que vão tentar deturpar as minhas palavras assim como deturpam as das Escrituras.
1. Eu não disse que por ser pobre alguém vai pro Céu. A salvação não está condicionada aos bens materiais, mas sim à fé em Cristo Jesus (Ef.2:8). É claro que a própria analogia de Cristo com o camelo e a agulha nos revela que é muito difícil um rico entrar no reino de Deus (Mt.19:23), e Tiago acrescenta que Deus escolheu os pobres para serem ricos na fé e herdarem o Reino (Tg.2:5). Isso não significa que nenhum rico possa ser salvo, mas dificulta as possibilidades de tal coisa suceder, visto que não é possível servir a dois senhores ao mesmo tempo: ou é a Deus, ou é ao Dinheiro (Mt.6:24), pois “onde está o seu tesouro, ali também estará o seu coração” (Lc.12:34). O caso do rico da parábola ir para o tormento e o pobre ser salvo é uma grande tipologia disso (Lc.16:19-31).
2. Eu não disse que Deus não pode prosperar absolutamente ninguém. Embora rarissimamente isso ocorra na Bíblia (e nunca ocorra com um apóstolo ou com alguma igreja, senão a de Laodicéia, que foi claramente repreendida por Deus por causa disso – Ap.3:14-18), isso ocorre em alguns casos isolados, como o de José de Arimatéia (Mt.27:57). Ele não era rico porque tinha mais fé do que os outros (como Pedro, Paulo ou Jesus), mas sim porque Deus quis assim. “Quem é você, é homem, para quesionar a Deus? Acaso aquilo que é formado pode dizer ao que o formou: ‘Por que me fizeste assim’?” (Rm.9:20).
3. Eu não disse que os cristãos tenham que “viver na miséria”. O que eu claramente disse foi que, ainda que você viva na miséria, não deve colocar a culpa em Deus ou na sua “falta de fé”. Constantemente vemos os próprios apóstolos vivendo em “miséria”, com necessidade de tudo – de tudo mesmo (1Co.4:11-13)! E não era porque eles não tinham fé. Algumas pessoas estão na miséria simplesmente porque este é um tempo que Deus está tratando com elas desta maneira (volte e leia Romanos 9:20, junto a Atos 14:22).
4. Eu não disse que você não tem que ter dinheiro nenhum. O que eu claramente disse foi que temos que nos contentar com o que é suficiente para vivermos, e não querendo mais do que isso. Querer sempre mais tem um nome: ganância! O autor de Hebreus é bem claro: “Sejam vossos costumes sem avareza, contentando-vos com o que tendes; porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb.13:5). Mas, se porventura você ganhar mais que o suficiente, o que fazer com o dinheiro? Simplesmente siga a instrução de Jesus Cristo: dê o dinheiro aos pobres (Lc.12:33,34), ou então contribua em alguma missão evangelística na África ou na Ásia, onde os cristãos missionários estão enfrentando grandes aflições e necessidades. Eu mesmo nunca fiquei com um tustão para mim mesmo. O que vem de aniversário, ano novo, mesada, etc, vai tudo para o campo missionário, pois sei que eles precisam deste dinheiro MUITO mais do que eu! Se você se encontra nesta mesma situação, pense bem nisso antes de gastar a sua “sobra” em algum carro novo, casa nova, televisão nova ou computador novo, enquanto existem cristãos que não tem nem sequer carro, casa, televisão ou computadores velhos! Se Deus permitiu que você tivesse mais dinheiro que a maioria, não é porque ele quer que você ajunte tesouros nesta terra (ver Mateus 6:19), mas sim porque ele confia que você contribua cada vez mais no avanço do Reino de Deus com as suas riquezas investidas no campo missionário ou aos necessitados.
Depois de tudo isso, concluo o meu artigo admoestando ao povo de Deus a pensar muito bem em cada palavra que foi dita, especialmente aqueles que são partidários desta doutrina. Não estou me referindo aos que defendem essa teologia apenas por ganância, pois sei que estes vão desprezar um estudo bíblico como esse. Estou me referindo às pessoas cristãs que infelizmente se encontram iludidas com tal doutrina, até mesmo podem estar hoje ensinando pessoas desta maneira e consequentemente iludindo outros também. O meu sincero apelo a tais pessoas é o mesmo de Paulo: “não ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus” (1Tm.6:17).
Termino aqui com uma pregação de Donnie Swaggart descendo a lenha na doutrina satânica da teologia da prosperidade, e com outra do excelente pastor John Piper, sobre o verdadeiro evangelho em direto contraste com o “evangelho” pregado pelos pregadores atuais da prosperidade. Poderia passar vários outros vídeos de muitos outros pastores honestos, tais como Paul Washer, David Wilkerson, e vários outros que em meio a tanta apostasia fazem frente contra este ensinamento perverso que nasceu com Kenneth Hagin e hoje é grandemente difundido pelos seus súditos, porém creio que estes dois sejam suficientes. Recomendo muito que vejam os dois vídeos, para vermos como o evangelho da prosperidade não fará ninguém louvar a Jesus, mas sim a sua própria prosperidade.
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Por: Lucas Banzoli.